domingo, 7 de setembro de 2014

Histórias do Paraná - A Fazenda Cambiju

Histórias do Paraná - A Fazenda Cambiju

A Fazenda Cambiju
Guísela V. Frey Chamma

Os Campos Gerais, que encantam todos pelas verdes colinas que se estendem no segundo Planalto do Paraná, foram atravessados por Jesuítas e bandeirantes, no século XVIII.
Mais tarde, paulistas instalaram ali, em vários pontos, grandes fazendas de criação de gado, nas sesmarias recebidas do Govemo da Metrópole.
Uma dessas fazendas, construída na sesmaria de José Góis de Morais, entre os arenitos de Vila Velha e o rio Tibagi, foi chamada de Cambiju, que quer dizer Campo Bonito.
Seu proprietário, Domingos Teixeira de Azevedo, havia herdado as terras do seu antigo dono.
Ali vivia com sua mulher Ana Siqueira de Mendonça e onze filhos, dez dos quais seguiriam, tempos depois, a vida religiosa.
Nesta fazenda se criava gado bovino para ser vendido nas feiras de Sorocaba.
Um pequeno número de escravos e alguns empregados brancos aí trabalhavam.
Domingos Teixeira de Azevedo era temido por todos em virtude de seu temperamento violento.
Numa ocasião, quando castigava um escravo, rapaz forte, de pele escura, com as mãos amarradas atrás das costas e uma orelha pregada no tronco de uma velha árvore cortada a um metro do solo, este libertou as mãos e, arrancando-se do tronco, avançou contra o fazendeiro, tirando-lhe a faca que o mesmo trazia no cinto, golpeou-o profundamente no ventre, e em seguida fugiu.
O fazendeiro, com a barriga perfurada, gritou e foi socorrido pelos agregados, e as mulheres, obedecendo suas ordens, rasgaram panos e envolveram fortemente o ferimento, em seguida o puseram em cima de um cavalo e, mesmo gemendo de dor, foi em perseguição do escravo, que não foi mais encontrado.
Provavelmente havia se escondido entre as pedras de Vila Velha, onde havia um reduto de negros fugidos das fazendas vizinhas.
Ao voltar, Domingos Teixeira de Azevedo ardia em febre.
Foi para a cama e, dois dias depois, falecia.
Sua mulher, cumprindo sua vontade, levou o corpo e sepultou-o junto ao Oratório de Santa Bárbara do Pitangüí, construído pelos Jesuítas que por aí haviam passado.
Sobre o Oratório mandou construir uma Capela de estuque.
Ao lado passou a existir um cemitério, e mais tarde ali funcionou um Cartório Distrital.
Tudo indica que neste local se formaria um povoado, mas os moradores que começavam a vir, preferiram instalar-se junto ao caminho das tropas que distava alguns quilômetros.
Ponta Grossa, que deveria ser fundada junto à Capela de Santa Bárbara do Pitangüí, acabou nascendo junto a um caminho que passava pelos Campos Gerais.

Guísela V Frey Chamma, historiadora e professora titular da Universidade Estadual de Ponta Grossa


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