Histórias do Paraná - Gravata vermelha
Gravata vermelha
Sergio A. Leoni
Após 26 dias de heróica resistência, a Lapa rendeu-se.
Entretanto, as garantias de vida e liberdade, consignadas na ata da capitulação assinada a 11 de fevereiro de 1894, não foram respeitadas.
Era grande a sede de sangue, de vingança!
A faca assassina que, de uma ou outra facção em luta, vinha abrindo carótidas desde o Rio Grande do Sul, passou a ser usada também na cidade vencida, em cenas de horripilante matança!
Ironicamente, as primeiras vítimas foram os cidadãos João Prestes e seu compadre João Lourenço que, embora solidários aos maragatos, por portarem muito dinheiro, foram por eles aprisionados e imediatamente degolados, junto a um riacho, na estrada para Rio Ne-gro.
Pelo mesmo motivo, instantes após a capitulação, era também degolado o sargento José Manuel da Silva Coelho, do 17° batalhão de Infantaria, que estava sendo levado preso para Curitiba.
A partir daí o barbarismo passou a imperar, principalmente depois que deixaram a cidade os chefes federalistas mais importantes, como Gumercindo Saraiva, Laurentino Pinto, Piragibe, ficando a praça à mercê da soldadesca maragata, muitos orientais, ávidos de desforra.
A lista de executados, sempre à faca, de combatentes e civis é extensa: Frederico Ganzert, Sebastião José do Couto, João Ferreira Bueno, Antonio Juarez, Ricardo de Lara, Carlos Frederico Ladwing, Otto Raschendorfer, Demétrio Fagundes Teixeira Coelho, Carlos Westphalen, Gabriel Pereira, Vicente Rodrigues Camargo, João José Portes, Antonio Vandoski, Francisco Euzébio de Moura, Luiz Wille, Francisco Rodrigues Franco, João Prestes Cavalheiro, João Lourenço Pimentel, João Bill, Gabriel Manoel Pereira, e outros.
Segundo o Cap.
José Maria Sarmento de Senna, num depoimento escrito em outubro de 1894, foram também executados 35 soldados do batalhão 111° de São Paulo.
O registro da morte mais cruel é a do major José Menandro Barreto, que após combater na Lapa refugiou-se em Curitiba.
Preso por ordem de Cesário Saraiva (notável sanguinário), foi obrigado a abrir a cova que logo lhe serviria de sepultura; cortaram-lhe, ainda em vida, os garrões das pernas, fazendo-o ajoelhar; cortaram-lhe os dedos, os pés, as mãos e, para consumar o tenebroso suplício, cortaram-lhe o pescoço!
Sua mulher, Thereza Barreto, um mês após saber do fim trágico do seu marido, também faleceu.
Sergio A. Leoni, ex-prefeito da Lapa.
"Gravata Vermelha": expressão gaúcha que significa degola.
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