Histórias do Paraná - O problema era a comida
O problema era a comida
Cláudia Regina Kawka
Em 1937, chegaram à Colônia Gleba Orle, hoje situada no município de Arapongas, Norte do Paraná, várias famílias de imigrantes eslavos.
Eram poloneses e ucranianos que vinham para o Brasil em busca de terras e de uma vida melhor.
Vinham cheios de esperança, incentivados pela propaganda que era feita na Europa pela Paraná Plantations Ltda., depois Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, que era colonizadora de uma vasta região do Norte do Estado.
Aqui, os imigrantes poloneses achavam tudo bastante estranho.
Os costumes eram diferentes, o mato também, as comidas nem se fala.
Logo que desembarcaram do navio, ainda em Santos, foram levados para um hotel, onde a mesa já estava posta.
Os imigrantes olhavam para aquelas comidas brasileiras e ficavam espantados.
Como o cheiro era diferente! Todos continuavam de pé, ninguém se encorajava para sentar e comer.
Entre os pratos de comida havia várias garrafas com um líquido transparente.
Finalmente um dos imigrantes resolveu experimentar a tal bebida, crente que fosse pinga.
Pegou o copo, encheu e tomou tudo de um gole só, como se fazia na Polônia.
- Urgh! — exclamou — é água!
Tamanho espanto se explicava pelo fato de que na Polônia não se costuma beber água nas refeições.
Ou então quando foram experimentar caqui:
- Mas que tomate brasileiro ruim! Nem tem gosto de tomate!
E tomates eles também não comiam.
Eva Kawka, minha avó uma das imigrantes polonesas, não deixava que seus filhos comessem tomates, dizia que não prestava.
Isso porque na Polônia não era costume comê-los.
Os poloneses plantavam tomates, mas estes, quando maduri-nhos, serviam para enfeitar as janelas.
Por isso preferiam aquilo que comiam na Polônia, como por exemplo pierogui, barszcz (sopa de beterraba), etc.
Mas comiam também arroz, feijão, quirera de milho cozida, uma espécie de bolinho feito de feijão, etc.
Mas tarde quando começaram a criar porcos, a situação ficou mais fácil.
Quando alguém matava um porco, juntavam duas, três famílias e repartiam-no, cada qual comprando determinada parte.
Para conservar a carne, os poloneses fritavam os diversos pedaços junto com a banha e depois colocavam numa lata.
Assim ela se conservava por muito tempo, e eles iam retirando os pedaços conforme necessitassem.
Também compravam algumas vacas, quando era possível, para ter leite em casa.
Quando Estanislau Kawka, meu avô, foi comprar sua primeira vaca, descobriu que o proprietário estava indo embora para São Paulo e que estava vendendo também o seu sítio de cinco alqueires. O curioso era que o preço do sítio era praticamente o mesmo da vaca.
Então Estanislau voltou para casa e disse para sua esposa e filhos que não ia mais comprar a vaca, e sim o sítio.
Mas eles não concordaram de jeito nenhum:
- Onde já se viu comprar terra ao invés da vaca? Por acaso nos vamos comer terra?...
Como a maioria foi contra, ele acabou comprando a vaca mesmo!
Hoje, quantas vacas compraria com o valor de cinco alqueires das melhores terras do país??
Cláudia Regina Kawka, acadêmica de Historia da UFPR
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