sexta-feira, 20 de maio de 2016

Histórias do Paraná - O incrível caso das moedas

Histórias do Paraná - O incrível caso das moedas

O incrível caso das moedas
Leonardo Henrique dos Santos

"Iguais a você, aqui já existem 10 mil".
Na época pioneira de Londrina, uma placa com essa frase de duplo sentido, permaneceu durante muito tempo plantada na entrada da cidade — tanto podia ser encarada como um solidário convite aos que chegavam, dispostos a crescer junto com a cidade, como uma advertência aos que vinham com o propósito de enganar os que trabalhavam.
De fato, as duas interpretações faziam sentidos.
Londrina realmente atraía multidões de brasileiros e estrangeiros, que chegavam decididos a regar aquela terra roxa com o seu suor. E no rastro deles também vinham, atraídos pela fama de cidade onde o dinheiro corria solto, pilantras de todos os quilates.
No início dos anos 70, a placa com a frase desafiadora já era apenas uma lembrança na memória das gerações pioneiras, como também não passava de vagas recordações os "causos" dos golpes dignos de roteiros cinematográficos - Londrina já havia deixado de ser a lendária "Capital Mundial do Café".
Em meados de 1972, começam a aparecer, em mesas de bar e em rodinhas na "pedra", chatos detalhistas que insistiam em apontar, como indícios de falsificação, quase imperceptíveis diferenças entre moedas de 50 centavos que deveriam ser idênticas. A conversa quase sempre era encerrada com a intervenção de algum "especialista", que pontificava:
- Isso é impossível.
Ninguém falsificaria moedas porque o custo unitário seria superior ao seu valor legal. O governo faz porque elas são necessárias, mas tem prejuízo...
Só que, decorrido mais algum tempo, as moedas em circulação na cidade começaram a "desbotar" e então ninguém mais teve dúvidas: alguém estava cunhando moedas em cobre e submetendo—as a um banho de níquel, que resistia por alguns meses mas acabava se desgastando. E a produção era em alta escala, porque as falsas moedas inundavam Londrina e se espalhavam por cidades de toda a região.
A Polícia Federal não teve a maior dificuldade em chegar ao "artista", que havia instalado uma autêntica "filial da Casa da Moeda" numa chácara - era um jovem elegante e de aparência fina, que visitava regularmente os varejistas da cidade, sempre de paletó e gravata e a bordo de um reluzente Dodge Dart, oferecendo saquinhos de moedas em troca de cédulas. Só faltava deixar cartão de visitas.
A reação da opinião pública quando o caso explodiu e o incrível falsário foi preso, revelou que a cidade continuava sendo capaz de admirar um golpe inteligente. Só se ouvia recriminações ao fato de o "moedeiro" ter sido tão descuidado:
- Onde já se viu, sair por aí de Dodge Dart trocando moedas! Ele tinha que se fazer passar por pipoqueiro, ou coisa assim...
- Se ele solta essas moedas em São Paulo, nunca que iriam pegá-lo...
A velha placa havia se perdido no tempo, mas sua mensagem de advertência continuava valendo — ninguém devia chegar em Londrina acreditando que era mais esperto porque na cidade realmente já existia de tudo.
Até mesmo alguém capaz de um crime tão inacreditável como falsificar moedas de 50 centavos... e ter lucro!

Leonardo Henrique dos Santos, jornalista


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