Histórias do Paraná - O Padre Camargo
O Padre Camargo
Luiz Romaguera Netto
Em 1918, nasceu na Freguesia da Vila Nova da Palmeira, José Antônio de Camargo e Araújo, filho de Antônio Joaquim de Camargo e Mathildes Umbelina da Glória, o velho Camargo, como era conhecido seu pai, figura de destaque tanto na Palmeira como em Guarapuava, onde foi um dos pioneiros.
A época era de lutas, conquistas, desbravamento de sertões; tudo por ser construído neste nosso Paraná. Seus irmãos e irmãs empenhados como seus pais nessa labuta diária, casaram-se e foram constituir suas famílias bem longe do rincão natal, uns em Palmas, outros em Guarapuava.
Ele e sua irmã Anna Maria, ficaram na Palmeira.
Já era moço, quando seu irmão mais velho, Antônio de Sá Camargo (mais tarde Visconde de Guarapuava) propôs a seus pais que fosse enviado a São Paulo para estudar, de vez que todos os outros não tiveram essa oportunidade, sendo que ele demonstrava pendores pela vida eclesiástica.
Os anos se passaram e, finalmente, em 8 de dezembro de 1848, assume a Paróquia da Freguesia o padre Camargo, coroando de êxito todas as expectativas da família, que queria ver o filho e irmão à frente da igreja. A alegria foi imensa!
A vida corria normalmente, quando, um belo domingo, ao oficiar a santa missa, notou linda menina moça, desconhecida de todos da cidade.
A "fraülein" de pele branca, cabelo loiro quase dourado, da cor da palha do müho, parecia uma santa. A menina moça despertou dentro dele o desejo, acendendo a paixão.
Assim, soube, desde a primeira vez que a viu, que o amor tinha lhe tocado, mexido com o seu mais íntimo sentimento.
Gertrudes (esse era o seu nome), com o coração batendo apressadamente, dirigiu-se ao confessionário, sem saber exatamente o que fazer.
Daí para frente, contam que o confessionário, ficou sendo o ponto de encontro dos dois.
Foi assim que conheceu a intenção dos pais dela em realizar o seu casamento com um dos rapazes da Colônia de São Leopoldo — RS, filho de amigos e companheiros desde a viagem da Alemanha para o Brasil.
Como ela não queria isto, tinha vindo com um tio e dois de seus irmãos para a 5a Província de São Paulo.
O noivo, não se conformando, veio atrás da prometida para oficializar o enlace.
Alguns dias antes do casamento, ela foi ao confessionário, onde declarou o seu amor pelo padre.
Combinaram então a fuga para viverem juntos.
Ele vacilou... e, na hora H, celebrou o casamento de Gertrudes com o outro, iniciando-se uma grande festa com um baile.
José Antônio com o coração partido e vendo a tristeza da noiva, ao sair lhe confidenciou que, quando todos estivessem entretidos com o baile, viria lhe buscar.
À noite, montado em seu cavalo, aproxima-se da casa. Lá estava Gertrudes a lhe esperar.
Dando-lhe a mão, ajuda-a a montar em sua garupa e, cobrindo-lhe com uma longa capa, partem a galope afastando-se da casa, ao encontro de seus destinos.
Esta história — que parece irreal - aconteceu no ano de 1849 na Freguesia da Palmeira e foi o início de uma grande parte da família Camargo no Paraná. Quanto a José Antônio Camargo, depois de largar a batina que envergara por seis anos e constituir uma família, foi por onze anos presidente da Câmara de Vereadores (equivalente a prefeito) de Palmeiras e outros 18 anos deputado provincial.
Luiz Romaguera Netto, advogado e membro do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná
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