terça-feira, 19 de julho de 2016

Histórias do Paraná - Inolvidáveis congadas

Histórias do Paraná - Inolvidáveis congadas

Inolvidáveis congadas
Benedicto Bueno

Salutar o movimento que explode nas telinhas domésticas, tentando revigorar o folclore tão arraigado ao gosto popular por esses brasis.
Na Lapa, antiga e lendária, entre folguedos tantos que faziam a delícia do lapeano de outrora, sem dúvida encimava o rol da representação entusiástica das sempre fabulosas congadas.
Data melhor para evento, impossível.
Dia 26 de dezembro, data comemorativa de São Benedito, justo no dia seguinte ao Natal.
Logo cedo, o foguetório e o repicar dos sinos denunciavam a abertura das festividades.
Aos poucos, o povo, no melhor de suas fatiotas domingueiras, ia se concentrando ao redor do cruzeiro no pátio da capelinha dedicada a São Benedito e a Nossa Senhora do Rosário, no mesmo local onde hoje se ergue imponente o Santuário de São Benedito.
Ali, em altar improvisado, transcorria a celebração de missa solene.
Quando o padre ordenava: -Ide, a missa terminou - a liturgia dava lugar à recreação tão mais esperada.
Leilões aqui, barraquinhas acolá. As indefectíveis rodas de fortuna e pescas milagrosas.
Em frente à capelinha, o hasteamento do mastro, em cujo cimo uma bandeira com a efígie do santo, ao sabor do vento, facultava ao homenageado observar a cidade em suas minúcias.
Lá pelas tantas, alguém anunciava: - A dança dos congos vai começar... Brincadeiras e quitutes eram esquecidos, o leilão postergado. A multidão queria saber das congadas, se apinhando ao redor daqueles combatentes pujantes que, vestes de milícia e armas de riste, compareciam para recordar, com cantigas e danças, os feitos bélicos de seus antepassados.
O soar dos tambores de guerra trazia consigo o cortejo dos congos. E adentrava pela multidão, num majestoso abre-alas, nhô Jordão, rei dos congos (o mais rei de todos), seguido de numerosa corte.
Com evoluções e gestos a traduzir respeito infindo ao monarca, lá estavam o príncipe Antônio Rocha,
o secretário José Manoel da Silva, o porta-bandeira Zé da "nhá" Marica, os fidalgos João do Noé, Augusto Severiano, José Pedro Maximiliano, Benedito Lagarto e tantos outros congos grandes e outros tanto de conguinhos.
Iniciada a representação, os congos se defrontavam com o embaixador (João Manoel da Silva) da rainha Zimba, acompanhado do cacique (Olívio Sabino) e seguidores. Há a confusão, o conflito... mas ao final impera a paz e o congraçamento para festejar São Benedito e a Virgem do Rosário.
Todo esse histórico transcorria entre rufar de tambores, danças animadas, coloridas e décimas de primeira grandeza.
Ao final, o espetáculo se transmutava em apoteose de amizade entre dois povos, que unidos agradeciam à Santa do Rosário e a São Benedito, festejando-o com versos lindos e simples como estes:
"Oi vamo minha gente, Vamo d’um modo bunito
Oi venerar o nosso santo, Que se chama Benedito."
De princípio a fim, as apresentações eram aplaudidas com delírio pelo povo, em reconhecimento àqueles artistas inatos.
Inda hoje, nossos mais velhos, quando recordam as proezas de nossos congos, parecem declarar: -"Ah!... que saudades que eu tenho das congadas de minha vida..."

Benedicto Bueno, tabelião aposentado na Lapa


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