Histórias do Paraná - Aposta perdida
Aposta perdida
José Cadilhe de Oliveira
Paranaguá, como toda cidade litorânea, tem seus hábitos que só acontecem à beira-mar onde, tudo indica,
seus moradores, dotados de verve acurada e simpática, traduzem, no cotidiano, alegria contagiante que faz de cada habitante um privilegiado fácil de ser admirado. Não há, em terras parnanguaras, quem não seja alcunhado e, via de regra, de modo jocoso.
Apelido lá pega para valer.
Famosas as alcunhas: "Caroço de Manga", "Esmaga Saco" "IPTU de Casinha de Cachorro", "Deixa que Eu Chuto",
"Pinto de Rodapé", "Cara Mijada" e tantas outras que alinhavam e retratam os motejados da terra banhada pelo Itiberê.
O mesmo acontece com qualquer histórieta contada ou vivida por esses moradores ou simples visitantes.
É um dos lados jocosos e pitorescos da cidade.
Tentarei, de modo resumido, narrar dois fatos pitorescos lá passados e que demonstram o feito desse festejado povo.
Simples fato, mas verdadeiros, garantem os de lá.
O primeiro deles conto em forma de diálogo.
Um estranho, chegando à cidade, logo que desceu do trem, ainda na gare ferroviária, deparou com um cidadão postado na plataforma e lhe perguntou:
- O senhor conhece o Doutor Jorge Curi?
- Não. Só uma das irmãs dele.
- Qual?
- A "manicuri"...
Outros, que teve como palco conhecido hotel situado à Praça Fernando Amaro, alinhou um visitante que havia, com amigos de Curitiba, feito um desafio, afirmado que ficaria em Paranaguá por três dias das seguidos e não receberia qualquer apelido.
Para conquistar a aposta casada, seguiu viagem e lá se hospedou no estabelecimento hoteleiro antes referido, que tem janelas voltadas para a praça fronteiriça.
Do departamento não arredou pé durante os dias lá permanecidos.
Por telefonemas internos, solicitava suas refeições que fazia no aconchego do seu aposento.
Salvo pedidos à Portaria, não falou com viva alma que fosse.
Invariavelmente, para passar o tempo, se postava à janela e dela saia inúmeras vezes, tanto durante o dia como no período noturno.
Assim, outra coisa não fez no espaço de tempo lá permanecido. A janela foi sua única companheira.
Findo o prazo estabelecido no ajuste, nosso homem, certo de que havia ganho a aposta, resolveu retornar a Curitiba.
Pelo telefone, como sempre, pediu sua conta.
Logo desceu para resgatá-la e empreender viagem de retorno.
Na portaria, após o pagamento, solicitou à gerência que mandasse apanhar suas malas no apartamento. Aí, deu-se a "melodia", e seu desafio foi por água abaixo...
O gerente, ordenando, disse ao "boy": "Tonico, vá buscar as malas do Cuco no 202". Ante o fato de apresentar-se, sistematicamente, à janela durante sua estada no hotel, o pessoal parnanguara, que bem notava esse estranho habito do inusitado hóspede, sapecou-lhe, com muita propriedade, a alcunha de Cuco, que outra coisa não faz na vida do que aparecer e desaparecer da janelinha de sua morada...
Aposta perdida.
Paranaguá, esse encanto de cidade, é, definitivamente, um recanto feliz para alegria de sua boa e simpática gente e do visitante, este que não tem como esquecê-la jamais.
José Cadilhe de Oliveira, advogado
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