Histórias do Paraná - Prestes em Renascença (II)
Prestes em Renascença (II)
Darcy Antônio Pacce
Em sua passagem pelo Sudoeste e Oeste do Paraná, em 1924, a Coluna Prestes teve vários confrontos com tropas do governo, desde pequenos entreveros, escaramuças, até verdadeiras batalhas campais.
Na região de Renascença, o maior combate se deu junto ao rio São Francisco, perto de uma cachoeira.
Foi violento. Não existem relatos de quantos exatamente morreram ou ficaram feridos, mas alguns depoimentos orais de pessoas que residiam na região, nos dão idéia de como foi o tiroteio.
O grosso das tropas de Luís Carlos Prestes preparava-se para atacar Clevelândia.
No caminho, ia pondo para correr, com facilidade, grupos da Guarda Nacional, precariamente compostos por civis da própria região.
Na fuga, deixavam para os revoltosos os carregamentos de víveres e animais. O avanço fácil dos revoltosos acabou sendo detido, pouco antes do ataque à Clevelândia, pelas tropas federais comandadas pelo Coronel Paim.
Uma patrulha avançada do Coronel Paim, surpreendida por outra patrulha de Prestes ao atravessar a ponte do Rio São Francisco, um pouco acima da cachoeira ali existente, foi alvejada e obrigada a recuar. O grosso das tropas legalistas estendeu então uma linha de campo, entre as palmeiras e os buritis, e abriu fogo com metralhadoras pesadas.
Entrevistei Horácio Mariano da Silva, que estava entre os revoltosos.
Ele contou que a distância, no início do tiroteio era de aproximadamente 800 metros.
Logo começou a cair gente ao seu lado.
Os revolucionários, contava Horácio, tinham alguns veteranos que recolhiam os mortos e os jogavam na cachoeira, para não assustar os combatentes menos experientes com o grande número de baixas. E cada vez mais perto dava para ouvir, do lado das forças do governo, os gritos dos oficiais: "Dá-lhe negrada, não afrouxem, não afrouxem!"
Do São Francisco, os rebeldes foram recuando para Campo Erê, sempre combatendo, armando emboscadas às forças do Coronel Paim, para dar tempo do grosso das tropas rebeldes fugir, rumo a Foz do Iguaçu.
Uma dessas escaramuças foi travada na Fazenda Velha, também em Renascença, onde ainda hoje se encontram as sepulturas do Major Monteiro e de um revoltoso.
Quantos morreram nesse tiroteio? Ninguém sabe ao certo. Júlio Mariano, então garoto e morando na Fazenda Velha, garante que foram muitos.
Alguns dias depois do tiroteio, conta ele, era comum encontrar porcos arrastando pedaços de pessoas. O mau cheiro que vinha das beiradas das picadas era tão grande, lembra Mariano, que para ir à roça seu pai molhava um lenço com creolina e o levava ao nariz.
Com Luís Carlos Prestes expulso da região, o Coronel Paim convocou todos os que o tivessem auxiliado a se apresentar e devolver armas e munições.
Prometeu que nada de mal faria. O medo de represálias, porém, fez muita gente fugir para a Argentina.
Alguns voltaram logo, outros ficaram por um bom tempo, como o Horácio Mariano da Silva, que morou por lá dez anos.
Muitos ficaram para sempre.
Darcy Antonio Passos, professor de história em Renascença.
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