sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Histórias do Paraná - Um dia sabor Coca-Cola

Histórias do Paraná - Um dia sabor Coca-Cola

Um dia sabor Coca-Cola
Celso Antonio Rossi

Corria o ano de 1948. Jacarezinho fervilhava.
A cidade, uma das pioneiras do interior do Paraná a ter o seu cinema, acabara de participar da inauguração do moderníssimo Cine Éden, que substituía o antigo Éden Theatro, então erguido na praça Rui Barbosa, no longínquo ano de 1927 e que servira de palco aos mais importantes filmes e peças teatrais da época.
Plácido Bertozzi, seu entusiasmado proprietário, era um homem progressista.
Incansável na programação das "fitas", trazia para a cidade sempre os grandes lançamentos das capitais.
Aos domingos, monumentais matinês reuniam a gurizada daqueles tempos que acompanhava com rara fidelidade os capítulos dos seriados que se sucediam semanalmente, verdadeiros precursores, quem sabe, das novelas amais.
Nas revistas da época ("O Cruzeiro", "Revista do Rádio", "Seleções"...) as propagandas povoavam a imaginação de tantos quanto as les-sem: era o lançamento dos carros "Nash", "o aristocrata das estradas"..., ou o "som sinfônico" da Standar Eletric na apresentação de sua rádio-eletrola...; ou a Royal, "anunciando a melhor máquina de escrever jamais oferecida"...
Mas, dentre todas elas, uma chamava mais a atenção: a da Coca-Cola...
Com suas letras entrelaçadas, na cor vermelha, a meninada de então ficava a imaginar quando é que poderia saborear aquele refrigerante que se via nos filmes americanos e que embora de cor muito escura parecia trazer junto de si um sonho encantado da juventude...
Plácido Bertozzi mantinha em seu moderno cinema um barzinho que à época era por todos denominado de "bombonière", dirigido pelas filhas e até pelos netos, que se revezavam naquele pequeno serviço. E Plácido, sentindo o anseio da criançada, não teve dúvidas: mandou um portador até São Paulo, que trouxe algumas garrafas do misterioso refrigerante, e num domingo de matiné, entre surpresos e incrédulos, tínhamos à nossa frente a tão esperada Coca-Cola...
Mas ninguém se atrevia a ser o primeiro a ir tomá-la: E se o seu sabor não fosse como a propaganda dizia? ... Por fim, uma das netas de Plácido Bertozzi não teve dúvidas: abriu a garrafinha e, ante o olhar admirado e invejoso de todos que ali se encontravam, sorveu gostosamente a misteriosa bebida.
Dali para a correria ao pequeno balcão, foi um segundo.
Todos gritando, com as notas de cruzeiros balançando pelo ar, queriam ser atendidos logo, queriam experimentar (finalmente!) a "mundialmente famosa" mas, mais do que isto, queriam contar aos demais que já haviam tomado aquele refrigerante dos seus sonhos.
A quantidade, porém, era pequena para tanta gente.
Os que tinham conseguido comprar, eram invejados pelos outros que, encabulados e arrependidos pela indecisão não tiveram outro jeito a não ser aguardar a próxima remessa, que só chegou uns trinta dias depois.
Dali para diante, o interesse continuou o mesmo, pois o nosso desejo era de nos igualarmos aos jovens modernos das cidades grandes, para que pudéssemos também ser admirados pelas meninas de nossa cidade.
Até que a Coca-Cola entrou na rotina de nossas vidas, mas, para quem participou daqueles momentos na sala de espera do Cine Éden, defronte à sua bombonière, por certo que jamais terá se esquecido daquele distante dia de 1948, quando a Coca-Cola chegou a Jacarezinho.

Celso Antonio Rossi, advogado e diretor da Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro (jacarezinho)


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