sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Histórias do Paraná - Cinza e frustração

Histórias do Paraná - Cinza e frustração

Cinza e frustração
Moacyr de Moura Cordeiro

O movimento político que visava eleger Getúlio Vargas e João Pessoa a presidente e vice-presidente da República, denominado "Aliança Liberal", teve no ano seguinte à sua formação, em 1930, um crescimento surpreendente em Prudentópolis.
De Patos-Velhos e Erval, só se falava nos candidatos da Aliança.
Caboclos mal informados de Rio Patinhos e do Matão travavam diálogos estapafúrdios como este:
- Nho Mané, quem é que vancê acha que vai ganha as inleição?
- Uai, só pode se o Getuio Gaspá.
- Hem, home de Deus.
Vancê ta loco.
Nho Gaspá é aqui dos Patos. O candidato é Getuio Vargas.
Dizem que é do Sur.
-Ah!...
A expansão da Aliança Liberal devia-se à família Pereira da Cunha, ao agrimensor Calió, a Teodoro Rocha Nenê e a tanto outros próceres, e bem mais do que a todos eles, ao Dr. Sagy Naked, político sagaz, casado com a Dra. Walkyria Moreira da Silva Naked, ambos advogados.
Preocupado com o alastramento da oposição, tratou o Governo do Estado de deter os passos de Sagy Naked.
Para tanto nomeou a Pedro Pierre de Oliveira como delegado de polícia de Prudentópolis.
Pierre era considerado um indivíduo mau e prepotente.
Logo depois da posse de Pierre, Sagy sofreu ameaças.
Também foi notificado de que estava proibido de adentrar na Delegacia.
Mas Sagy Naked não era homem que se assustasse com a carranca do delegado.
Nem ele nem Teodoro Rocha Nenê. Ambos continuaram a propagar o nome de Getúlio Vargas.
O dia primeiro de março, dia das eleições, foi de terror para os oposicionistas de Prudentópolis.
Como a legislação não previa o uso de uma, o eleitor era obrigado a dar o seu voto diante dos olhos ameaçadores de Pierre e de seus soldados.
Apesar da braveza do delegado, havia eleitores brincalhões e provocantes.
Um deles, o jovem Jorge Grus, do interior de um caminhão de João Techy, dirigido pelo proprietário, no instante em que o veículo passava pela frente do prédio onde estavam instaladas as seções eleitorais, levantando-se no estribo e paralama, gritou com toda a força: - "Viva Getúlio Vargas!"
Uns soldados enrubesceram, outros se tornaram pálidos, mas quando resolveram reagir, era tarde. O caminhão já estava longe.
A derrota de Júlio Prestes e de seu companheiro de chapa Vital Soares, significaria o malogro dos esforços de Pierre. E era isso o que todos os presentes estavam prevendo.
Lá pelas quinze horas, Pierre não se conteve.
Irritado, mandou incinerar o material de votação.
Atônita, a população viu os soldados
Queimarem em praça pública as olhas de votação, livros e atas.
Da eleição, nada restaria senão cinzas e frustração.

Moacyr de Moura Cordeiro, advogado e professor de História em Prudentópolis


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