sábado, 20 de agosto de 2016

Histórias do Paraná - O herói e o vilão

Histórias do Paraná - O herói e o vilão

O herói e o vilão
Luiz Romaguera Netto

Era o presidente da província quem concedia títulos de naturalização de cidadão brasileiro aos imigrantes que assim o desejassem. O francês Jorge Leprevost, no dia 18 de janeiro de 1879, prestou juramento de fidelidade à Constituição e às leis do Brasil, tornando-se um brasileiro naturalizado. O juramento solene foi feito na presença do presidente do Paraná, Dr. Rodrigo Otávio de Oliveira, sendo o ato secretariado pelo Sr. Ernesto de Moura Brito.
O Sr. Jorge Leprevost foi morar em Tijucas, onde, anos mais tarde, quando da Revolução Federalista, já comissionado Capitão, o encontramos entrincheirado, defendendo os poderes constituídos do país que tão bem soubera lhe acolher.
Tinha ele, entre os muitos empregados, um de sua inteira confiança: seu afilhado de nome Tibúrcio.
Dias antes do início das hostilidades, em janeiro de 1894, teve notícia de que uma de suas vendas, logo ali perto, havia sido saqueada e que Tibúrcio era o saqueador. Não podendo acreditar, pois este lhe pedira licença para atender a mãe enferma, aguardou sua volta para saber dele próprio.
Quando chegou, negou tudo.
As testemunhas o desmentiram e ele foi preso.
Em seguida, conseguiu escapar e juntou-se às tropas federalistas, das quais era informante.
Já com Tijucas capitulada, entra na praça com o pomposo título de Major e afronta seu antigo protetor. Não se conformando com as ofensas a ele dirigidas, Leprevost parte com seu bastão desferindo-lhe forte golPe. Recebe, em revide, um tiro no peito, indo direto para o hospital, conseguindo escapar com vida.
Alguns dias mais tarde, entra pela porta do hospital um soldado desconhecido que, apontando sua arma para a cabeça do Capitão, acaba com sua vida.
Soube-se depois que o mandante fora Tibúrcio que, acobertado por Henrique Doria, irmão do governador dos federalistas, foge.
Quando pego pelos republicanos, teve morte horrível.
O Capitão Leprevost jurou e cumpriu sua fidelidade ao Brasil.
Morreu com honra.
Poucos dias atrás, em uma minissérie da televisão, todo o Brasil conheceu a história da vinda de alguns italianos, anarquistas, formando a célebre Colônia Cecília, ali na Palmeira. O que não sabem é como ela terminou.
Colombo Leoni, imigrante, querendo hostilizar o governo brasileiro, que o trouxera e recebera de braços abertos, organizou um batalhão ítalo-brasileiro, composto pelos anarquistas.
Reuniu, então, toda a Colônia onde os homens formavam grupos de salteadores e bandidos, atuando na cidade de Palmeira e em outras colônias vizinhas. A força, tudo dilapidavam. O batalhão tornou-se a vanguarda das tropas de Aparício Saraiva (federalista).
Com esta atitude, Colombo Leoni prestou um grande serviço àquelas comunidades, pois quando esse batalhão, em fuga para o Rio Grande do Sul, caiu nas mãos do General Pinheiro Machado, este os destroçou, não escapando nenhum homem com vida.
Não houve notícia de que alguém tenha voltado à Colônia Cecília que, assim, desapareceu.
Dois homens — Jorge Leprevost e Colombo Leoni -tiveram destinos bem diferentes. A história encarregou-se de contar quem foi o herói e quem foi o vilão.

Luiz Romaguera Netto, advogado e membro da Associação dos Amigos do Arquivo Público do Paraná.


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