domingo, 25 de setembro de 2016

Histórias do Paraná - As tragédias Coloradas

Histórias do Paraná - As tragédias Coloradas

As tragédias Coloradas
Ernani Buchmann

Durante os 18 anos em que existiu, o Colorado passou por quase todas as fases possíveis.
Ficou faltando a fase vitoriosa, plenamente vitoriosa, porque as mais ou menos vitoriosas foram muitas, incluindo um 4x0 no Flamengo, com Junior e tudo, durante um campeonato nacional.
Mas primeiro houve a fase dos vice-campeonatos — e foram muitos, até o fatídico jogo contra o Coritiba, em 1979. Nesse dia, o ponta-esquer-da Santos, do Coritiba, um pernambucano que passou por bons times, foi expulso aos 10 minutos do primeiro tempo. O que se viu a partir dali foi um massacre. Não do Colorado contra um adversário com 10 jogadores, mas do Coritiba, que venceu por 2x0 e levou o título.
No Colorado jogava um lateral-esquer-do, Sidney, que bateu 8 laterais.
Todos impugnados e revertidos pelo árbitro.
Foi um jogo estranho.
Mas não muito, já que a tragicomédia parecia ser a marca do Colorado.
Certa vez, ganhava do Atlético de 4x0 na Baixada até os 28 minutos do segundo tempo, quando um tal de Ziquita desandou a fazer gols. Só parou porque o jogo terminou e a partida já estava 4x4. Depois, na iminência de ganhar seu primeiro campeonato, foi vítima de grossa malandragem do time de Cascavel.
Acabou sendo obrigado a dividir o título.
Tomou-se assim, ao lado do próprio Cascavel, o primeiro meio-campeão do futebol paranaense.
Era goleiro do time do oeste um sujeito com nome de craque: Zico.
Uma tarde, durante partida no velho Ninho da Cobra, em Cascavel, Zico incorporou o espírito de seu xará artilheiro.
Chutou uma bola para a frente, com força.
Joel Mendes viu que ela vinha, vinha, até que veio.
Parou no fundo do gol.
Gol de goleiro, vergonha colorada.
Talvez por isso, o time contratou o goleiro-artilheiro Zico. E lá se foi o time jogar contra o Botafogo, pelo campeonato nacional, no estádio Mané Garrincha, em Marechal Hermes, no Rio.
Intervalo de jogo, Zico passou mal e foi ao banheiro. A dor de barriga parecia não diminuir e, lá de cima, o juiz já estava puí-puí-puí, chamando para o reinicio.
Mas deixar o banheiro como? Pois voltou o time, sem goleiro, e assim o jogo recomeçou, que o impaciente árbitro não estava interessado em dar moleza a ninguém...Alguns minuto depois, o estádio e milhões de telespectadores viram Zico invadir o campo, na velocidade de um Ben Johnson com anabolizantes, a correr na direção do gol colorado, enquanto amarrava os calções.
Talvez por isso, venderam o desarranjado Zico. E voltou ele para Cascavel.
Algum tempo depois, vai o Colorado disputar com o mesmo Cascavel uma classificação para as finais do campeonato paranaense.
Por alguma estranha razão foi o jogo marcado para Londrina.
Pelas tantas do segundo tempo, jogo empatado em 0x0, Zico caiu machucado.
Como o Cascavel já havia feito as duas substituições, a torcida colorada anteviu a vitória.
Sem goleiro ficaria fácil.
Mas Zico tinha alma de guerreiro.
Voltou a campo, de braço imobilizado. E pegou tudo.
Garantiu o empate e levou a decisão para os pênaltis.
Ora, ganhar nos pênaltis de um time cujo goleiro estava com o braço na tipóia não deveria ser problema. Não deveria, mas foi.
Na segunda série de cobranças, um colorado chutou e Zico pegou.
Impossível? Não, ainda não.
Se o Cascavel marcasse o pênalti seguinte, venceria.
Quem vai bater? Ele, só poderia ser ele.
Assim, com outro gol de Zico, o Colorado incorporou à sua história mais um campeonato perdido.
Teria sido trágico, não fosse cômico. E vice-versa.

Ernani Buchmann, publicitário


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