Histórias do Paraná - Carruagens de Fogo
"Carruagens de Fogo"
Luiz Cláudio Mehl
Toda cidade tem uma vocação, é o que afirmam os urbanistas.
Os traços físicos, a localização geográfica e a formação cultural são alguns determinantes desta vocação.
Diz-se, por exemplo, que São Paulo representa a face capitalista do Brasil; dinheiro, competição e sucesso parecem mover a maioria dos seus habitantes.
O Rio de Janeiro, violência à parte, cultiva o misticismo, a musicalidade e o romantismo.
Curitiba, ao revés, não define claramente uma vocação predominante como cidade.
Ela tem alterado a prática da ciência urbana com manifestações de fenômenos sociológicos.
Há no entretanto um traço comum entre os seus moradores: Uma desmedida vaidade pela cidade!
E este não é um fenômeno recente.
No principio dos anos vinte, início da era do automóvel, Curitiba já possuía um sistema integrado de transporte. A "Maria Fumaça" trazia os viajantes até a Estação Ferroviária, localizada na praça que hoje chamamos de "Eufrásio Correa", próximo do prédio atual da Câmara de Vereadores. E, bem em frente ao prédio da Rede, aünhavam-se as caleças, meias caleças, Landau e outros modelos.
Eram pequenas carroças que transportavam passageiros para os diferentes pontos da cidade Os bancos eram estofados, o molejo macio e as lamparinas iluminavam as noites, geralmente cobertas pela neblina.
Elas eram puxadas por garbosos cavalos e dirigidas pelo cocheiro, acompanhados dos lacaios (ajudantes).
Contam os que viveram aqueles tempos, que os cocheiros disputavam os viajantes cansados da longa viagem de trem.
Eles embarcavam na caleça, exaustos, e ordenavam ao cocheiro: "Leve-me ao hotel mais próximo". E a caleça saía em disparada pela rua Rio Branco acima.
Enquanto isso, o lacaio descrevia para o viajante as belezas do lugar, conforme passavam em frente; os palacetes do Batei, a catedral, o pelourinho, o passeio público e até a chácara dos Leão da Rua João Gualberto. O Tour muitas vezes ultrapassava as primeiras horas da noite, e pela luz das lamparinas, o viajante enfim chegava ao "próximo" hotel; dolorido e cansado pelas viagens.
Quando acordava no dia seguinte, abria as janelas do quarto, de onde descortinava o familiar prédio da Estação Ferroviária.
Ao esticar um pouco mais o pescoço ele via alinhadas as mesmas caleças de ontem; do Tatersal, Forbec, Colere, Rutz, e é claro dos Mehl.
Testemunha da verdade destes tempos, lá permanece o Hotel Marcassa; reformado e ampliado, mas com as janelas ainda voltadas para a Estação.
Luiz Cláudio Mehl, engenheiro civil
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