sábado, 24 de setembro de 2016

Histórias do Paraná - O Monge e o Natal de Maria

Histórias do Paraná - O Monge e o Natal de Maria

O Monge e o Natal de Maria
Valêncio Xavier

Quem leu a história do Monge João Maria, ainda tem mais.
O povo considerava o monge João Maria a reencarnação de Jesus Cristo.
Ele sempre negou isso.
Uma história conta que, certo dia, o monge instala sua tendinha na beira do rio Tibagi.
Ali recebe os romeiros, reza, dá conselhos, receita chás para curar doenças.
Os caboclos esperam seus milagres.
No dia seguinte prepara-se para partir. Não havia ainda a ponte sobre o rio Tibagi, perto da cidade.
Atravessar o rio só de balsa. O monge pede ao barqueiro para transportá-lo para a outra margem,
diz não ter dinheiro para pagar a travessia pois fizera voto de pobreza. O balseiro nega:
"Pois, meu velho, com toda sua santidade, se não tem dinheiro, não passa." E riu-se nas barbas do profeta.
Um dos fiéis ainda se ofereceu para pagar a passagem, mas o monge João Maria não aceitou.
Quando a balsa chegou na outra margem, qual não foi a surpresa do balseiro ao ver o Monge rezando na sua tendinha já instalada.
Espantado, o barqueiro pergunta: "Como o senhor chegou até aqui?" O monge responde: "Caminhando sobre o rio.
Não lestes nas Sagradas Escrituras que Cristo caminhava sobre as águas?" "Então sois Cristo?" pergunta o barqueiro.
Sereno, o monge responde: "Sou um pecador como vós.
Mas tenho fé em Cristo e ele me ampara sobre as águas. Vós também o podeis fazer se quiseres, e tiverdes fé."
O livrinho, além de mostrar a visão popular da vida, milagres e profecias do Monge João Maria, alerta contra os falsos profetas que viriam depois dele. E conta a história verídica de uma Maria paranaense que quis reproduzir nela mesma o milagre do Natal.
Aconteceu na região de Guarapuava nos anos vinte.
Uma mulher chamada Maria, alucinada, cismou que era a Virgem Maria e que seu filho era, nada mais nada menos, que o Menino Jesus.
Tal como os pastores do presépio, os crédulos caboclos da região correram a adorar a "Santa". De viola e rabeca, rezavam e entoavam cantos de glória à "Virgem Maria" e seu "Menino Jesus". O culto cresceu, os fiéis tiraram a "Santa" de casa e, em procissão, levaram-na num andor até uma capela próxima.
Impuseram à "Santa" um jejum forçado, e passaram o dia em banquetes, festas e...rezas.
Sem alimento, a "Santa" não tinha leite a dar a seu já mirrado filho.
Uma mulher caridosa levou a criança para casa.
Inconformado com o jejum sexual em que sua mulher o deixara, o marido da "Virgem" fugiu com uma das fiéis mais animadas.
A festança continuou até que um padre de Guarapuava expulsou todo mundo da capela, pondo um fim ao falso natal.
Um dos fiéis, solteirão, levou a "Virgem Maria" para casa e, em vez de preces, encheu-a de filhos e comida. O que, dizem, ela gostou muito.

Valêncio Xavier; escritor e historiador


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