sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Histórias do Paraná - Macucos e socialistas

Histórias do Paraná - Macucos e socialistas

Macucos e socialistas
Abílio Alves da Silva

Quando Maringá foi construída, no final da década de 40, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná abriu em seu entorno, uma grande malha de estradas vicinais, da qual resultou em rápido e grande progresso para toda aquela região, conhecida como Norte Novíssimo.
Veio gente de todo o Brasil, uns com muito dinheiro, outros com boa vontade e a esperança em Deus. O movimento na cidade era um verdadeiro "farwest", tinha de tudo -carro de boi, carroça, cavaleiros e até automóvel de luxo.
A Cia. Melhoramentos partiu, então, rumo ao noroeste, com o objetivo de abrir e colonizar uma área de 100 mil alqueires na margem esquerda do Rio Ivaí. No inicio, a transposição do rio era feita por uma passagem um tanto improvisada, mas logo foi construída uma balsa, conhecida como a balsa do Kamamoto, que operou até os idos de 1957/58, quando foi construída a ponte.
Desse local saía estrada pioneira que conduzia até o primeiro acampamento mandado construir pela Companhia.
O acampamento ocupava uma área de 15 alqueires, aberta na mata virgem, onde foi erguida a serraria que forneceu a madeira para as primeiras casas da localidade.
Esta ficou inicialmente conhecida como "15 alqueires", mas tarde rebatizada como Cianorte.
Está localizada no planalto do Rio Ligeiro, afluente do Rio Ivaí, numa região de flora e fama de indiscutível beleza. E, também, de alguns mistérios e muitas curiosidades, como aquelas envolvendo o macuco, uma ave de hábitos peculiares, que vive exclusivamente em mata virgem e é considerada o frango selvagem.
Onde pia o macuco, dizia-se, a terra é fértil, boa para o café. É um pio característico, mas facilmente imitável justamente por seu maior inimigo, a onça pintada. Lá pelo fim da tarde, a onça subia no alto de uma árvore, escondendo-se na galhada, e imitava o pio do macuco. A ave, acreditando tratar-se de um companheiro, voava para o mesmo galho, para passar a noite junto. Aí virava fácil jantar da onça que, diziam, não se deliciava tanto com a carne do bicho, mas com suas penas, que são salgadas.
Histórias à parte, a verdade é que havia muitos macucos na região, e as terras eram de fato muito férteis.
Com isso, mais o esforço dos primeiros habitantes, Cianorte prosperou rápido.
Tanto que chamou a atenção de uma comissão de estudos da FAO, o órgão da ONU para alimentação e agricultura, que viera observar o desenvolvimento daquela região que produzia tantos alimentos.
Os especialistas buscavam subsídios para em outras regiões do mundo, principalmente na África.
Em Cianorte, tiveram uma reunião com administradores da Companhia Melhoramentos e colonos.
Elogiaram tudo o que viram e indagaram qual o segredo ou milagre do progresso.
Em resposta, ouviram que o "milagre" estava na grande disposição para o trabalho e na observância de alguns direitos elementares: o direito à propriedade, à livre iniciativa, o direito do estímulo sobre o lucro. Não havendo lucro, não há progressos.
Isto é básico.
Acontece que os visitantes, quase todos franceses e socialistas passionais, esperavam ouvir qualquer outra coisa menos isso.
Contra-ar-gumentavam com as vantagens de sistemas coletivos de produção, etc e tal. O resultado foi um rebu danado.
Se os franceses socialistas aprenderam a lição e a transplantaram para a África, não se sabe.
Mas por aqui, a lição deixada pelos pioneiros que transpuseram o Rio Ivaí continuou propiciando muito progresso.
Com a boa semente plantada em solo fértil.

Abílio Alves da Silva, ex-militar e pioneiro no norte do Paraná


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