Histórias do Paraná - Café requentado
Café requentado
Celso Antonio Rossi
A região Norte Pioneiro do Paraná, ao longo de sua história, teve grandes líderes políticos, homens que se elegiam quantas vezes quisessem, graças ao seu carisma e à sua habilidade.
Foram homens que escreveram importantes páginas da história de nosso Estado, mas que viveram também situações curiosas que foram narradas de geração para geração, sem que se duvidasse de sua veracidade.
Benedito Moreira, ou simplesmente B. Moreira, como ele gostava de ser chamado, foi um desses homens, talvez o maior líder político de toda a história da região.
Em Jacarezinho foi Prefeito Municipal por três vezes e também deputado estadual por um mandato e suplente em outro; em Cambará, sua terra natal para onde retornou após longos anos de vida em Jacarezinho, foi também eleito Prefeito.
Político moldado à forma antiga, pelo velho PSD, B. Moreira nunca perdia eleição, e mesmo quando seu candidato a Governador era derrotado, ele justificava a vocação adesista de seu partido e, para desespero dos adversários, em poucos dias já era recebido pelo
Governador eleito...
Na cidade então, sua presença era indispensável, desde as mais simples festas da zona rural até os casamentos e solenidades mais importantes. E B.Moreira sempre presente, acompanhado de um séqüito de amigos e companheiros que os adversários, maldosamente, chamavam de "corriola"...
Numa das várias campanhas de que participou, encontrava-se B. Moreira correndo a zona rural, quando numa das visitas foi-lhe servido um cafezinho em uma caneca esmaltada, mas já toda descascada.
Café requentado, e B. Moreira, mal disfarçando o mal estar, elogiava-o para a mulher do "cabo eleitoral" que, todo orgulhoso, não cabia em si de contente.
Num determinado momento, porém, B. Moreira encontra uma "saída" para a incômoda situação:
Na "varanda" da casa de madeira em que se encontrava, o assoalho era feito de taboas intercaladas por um pequeno espaço, embaixo do qual existia um porão aberto.
Pois, num segundo de distração dos donos da casa, B. Moreira não teve dúvidas: despejou o cafezinho por um daqueles vãos e, assustado, ouviu um grito desesperado de um menino ("guri", como se dizia na época) que aos brados saiu exclamando:
- O homi jogou o café ni mim!...
Só aí foi que B. Moreira se deu conta de que, no porão, escondido e envergonhado da ilustre visita, estava o filho dos donos da casa, um moleque de seus dez anos e que, atingido pelo café quente, saíra aos gritos em desabalada carreira...
Depois das explicações de que a caneca "caíra" de sua mão, B. Moreira pediu uma outra e depois outra mais e, ante o olhar desconfiado do casal, sorveu "gostosamente" o café requentado, entremeando a cada gole um elogio à dona da casa...
Celso Antonio Rossi, diretor da Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro (de jacarezinho)
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