sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Histórias do Paraná - Imaginação criadora

Histórias do Paraná - Imaginação criadora

Imaginação criadora
Bruno M da Matta

Década de 60, Curitiba ainda vivia a década de 50. Uma cidade extremamente tranqüila e com um ar de interiorzão.
Trombadinhas, expresso, favelas, invasão de áreas? Nem pensar.
O Estádio Durival de Brito e Silva, na Vila Capanema, que hoje até mudou de nome, era o melhor estádio de futebol do sul do país, o primeiro com iluminação:
- Holofotes, diziam na época.
Vigilante, atento às frieiras dos mais relaxados, extremamente zeloso com a água da piscina do Ferroviário ("sem carteirinha de exame de saúde em dia, não entra"), o hoje próspero comerciante José Juarez Coelho fazia sua vigília no portão de acesso àquela área de lazer, certamente uma das primeiras da cidade.
Tudo era diferente. A Praça Afonso Botelho, hoje Praça do Atlético, era uma panela.
No meio, entre duas ribanceiras que terminam (ou começavam) na Rua Engenheiros Rebouças e Avenida Getúlio Vargas, o campo do 13 de Maio, onde se praticava um futebol vigoroso, valente, de muito suor.
Suor que era eliminado após o jogo num olho d’água que ficava na parte mais alta do terreno, a uns bons metros de onde hoje está a concha acústica.
Na Engenheiros Rebouças (consta que eram dois irmãos, funcionários da Rede Viação Paraná Santa Catarina, daí a homenagem no plural), rente à rua, o Rio Água Verde, correndo a céu aberto.
Chute para fora, bola no rio, desconto devidamente aplicado por sua senhoria, o árbitro, para dar seqüência à pugna.
Era tão Curitiba a nossa Curitiba (que um dia, maldade de Millôr Fernandes, teve seu nome traduzido para "ritiba quer dizer do mundo") que suprema glória era desfilar na rua XV ou fazer ponto diante dos cinemas Avenida e Ópera.
Televisão, muito precária.
Tanto que o grande agito da Copa do Mundo de 1962, no Chile, foi a instalação de dois potentes alto-falantes na marquise das Lojas Sibrama, na esquina da Ermelino de Leão com a XV.
Em cadeia com uma emissora de São Paulo, a multidão acompanhava a transmissão pelo rádio, dos inesquecíveis combates travados pela seleção canarinho do Brasil contra estranhos times de jogadores com nomes estranhos e de países mais estranhos ainda.
Depois era esperar pela chegada das fitas, precursoras do vídeo-tape, que mostravam, dois dias depois, o transcorrer, 90 minutos dos jogos do Brasil no Chile.
Com patrocínio das Organizações Novo Mundo Vemag.
Preto e branco, é claro.
Pouco importava, na transmissão direta, pelo rádio, os espíqueres (o juiz sempre era mal-intencionado, contra nós). O tempo apagava tudo da memória e curtia-se a partida diante do baita televisor, de pernas de madeira, Canarinho, a Voz de Ouro ABC, as jogadas fantásticas de Mané Garrincha, Zito, Gilmar, Vavá e Amarildo.
Tevê e rádio se completavam em harmonia.

Bruno N. da Matta, radialista


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