terça-feira, 8 de novembro de 2016

Histórias do Paraná - Candidatos ao vivo

Histórias do Paraná - Candidatos ao vivo

Candidatos ao vivo
Bruno Nunes da Matta

As eleições deste ano de 1994 prometem a volta triunfal dos palanques.
A legislação eleitoral vai tirar o brilho eletrônico dos programas do TRE.
E a volta dos candidatos ao corpo-a-corpo, o pegar à unha o eleitor, gastar o verbo, fazer uso da eloqüência, ser mágico.
Alquimista, prestidigitador das palavras.
Talentos que poucos têm, como o deputado Erondy Silvério, portador de um verdadeiro bordão quando se dirigia à massa:
- Eu, que comi o pão da caridade pública...
O povão ficava emocionado, identificava-se com o candidato, de origem pobre, que lutou para subir na vida, como a grande maioria.
Tanto que Erondy reelegeu-se diversas vezes. E é verdade: o deputado tinha passado por um orfanato.
Às vezes, no entanto, o político acaba com os burros n’água.
Faz parte do folclore político o episódio em que o candidato, tentando a reeleição, bradou ao microfone:
- Neste bolso nunca entrou dinheiro público!
Ao que, um gaiato lá atrás, repicou:
- Calça nova, hein?!
O pai da jornalista Adélia Lopes, candidato a vereador em Aquidauana, Mato Grosso, dirigiu-se em caravana para um local pobre às margens do rio de mesmo nome.
Pobre mas bom de voto.
Na cabeça, um vistoso chapéu Panamá. Lindo.
Discurso inflamado, termina o pronunciamento e é carregado pelos correligionários.
Na confusão, fica sem o chapéu.
Reage, aos gritos:
- Devolvem meu chapéu, bando de ladrões!
Consta que não arrancou um mísero voto no distrito.
O ex-governador Álvaro Dias desce para inaugurar uma obra no litoral.
Na estrada das praias, populares à espera.
Manda o motorista parar o carro, desce, vai ao acostamento e cumprimenta um a um.
Apertos de mão e abraços. O motorista do Palácio, brincalhão, decide fazer uma molecagem. O governador descia e ele fazia o mesmo, pelo outro lado do carro, perfilando-se com os populares.
Recebia o aperto de mão, o abraço, e tratava de retornar ao volante, escondendo-se entre os moradores.
Assim fez durante quase todo o trajeto.
Já o professor Sydnei Lima Santos, candidato a vereador, no tempo do Curso Tuiuti, vai a um comício em bairro.
O líder dos moradores, ao anunciar seu discurso, esquece o currículo do candidato a ser apresentado à turma:
- E ele, o nosso candidato, é professor... professor... professor de datilografia!
Ouvem-se aplausos.

Bruno Nunes da Matta, radialista


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