Histórias do Paraná - Getúlio e a advogada
Getúlio e a advogada
Josué Corrêa Fernandes
Nos estertores do Governo comandado por Washington Luís (1927-1930), muitas atrocidades foram cometidas com o intuito de conter o avanço da Aliança Liberal, chefiada por Getúlio Vargas.
Prudentópolis, a essa época vivendo ainda os últimos resquícios do período áureo da erva-mate, assistia também à acirrada disputa entre o Partido Republicano Paranaense, chefiado pelo então prefeito Dr. João Fleury da Rocha, e as hostes getulistas, que tinham no casal de jovens e talentosos advogados Sagy Naked e Walkyria Moreira da Silva Naked seus principais líderes.
Dra. Walkyria, poliglota, filha do paulista Antônio Moreira da Silva, republicano de primeira hora e signatário da Constituição Federal de 1891, embora residisse em Prudentópolis, guardava fortes laços com São Paulo, onde ocupou a presidência da "Liga Paulista pelo Progresso Feminino" e da "Aliança Paulista pelo Sufrágio Feminino", fazendo parte também do "Triunvirato Brasileiro das Mulheres Ilustradas" e da "Liga Universal pelo Progresso Feminino Americano e Europeu". Era, pois, inquestionavelmente, uma mulher à frente de seu tempo.
Quando já começava a desmoronar a chamada República Velha, importou-se do Rio de Janeiro um tal de Pedro Pierre, que se intitulava "detetive" e que viera a Prudentópolis, assumindo a Delegacia de Polícia, para "pôr ordem nas coisas". Seu primeiro alvo foi o casal de bacharéis que, na casa dos trinta anos, promovia reuniões públicas e dardejava discursos inflamados, sendo seguido e aplaudido pela maioria dos jovens da pequena cidade.
Numa oportunidade, porém, que Sagy Naked se ausentara da cidade, vindo a Curitiba, o alcagüete, dando mostras de sua autoridade, prendeu a Dra. Walkyria, deixando-a incomunicável.
Alertado via telégrafo, Sagy arrumou um automóvel e retornou a Prudentópolis, chegando quase um dia depois, mas dirigindo-se de imediato à Delegacia de Polícia.
Ali, após violenta discussão, Sagy resolveu libertar a esposa por seus próprios meios, pegando-a pelas mãos e procurando a saída, ocasião em que Pedro Pierre, secundado pelo cabo Amâncio e outros po-liciais, disparou suas armas, sem qualquer piedade.
Morto covardemente Sagy e ferida sua esposa, o corpo do primeiro ficou ainda por algumas horas defronte à Delegacia, debaixo de forte chuva, até que alguns aüancistas, vencendo o medo, viessem até o local e o carregassem para velar.
Poucas semanas depois, derrubado Washington Luís, assumia um Governo Provisório.
Getúlio, o líder máximo, encontrava-se já em Ponta Grossa, aguardando o momento de tomar as rédeas do poder.
Foi nessa ocasião, segundo testemunha o pontagrossense César Ribas da Silva, em depoimento sobre a Revolução de 30, que Getúlio Vargas, presente o depoente, o então Cel.
Plínio Tourinho e outras pessoas, voltou-se para a jovem e branda seguidora, que ainda amargava a morte brutal do marido dizendo-lhe:
- Dra. Walkyria, a Inter-ventoria do Paraná é sua.
Está em suas mãos.
Como resposta, Walkyria declinou do convite, mas pediu a Getúlio que fosse nomeada Promotora Pública para punir os que assassinaram Sagy. O caudilho dos pampas, ouvindo aquilo, teria respondido:
- Considere-se empossada!
E, na seqüência, dirigindo-se
a Plínio mandou que este avisasse seu irmão Mário Tourinho, da reserva do Exército, para que o mesmo assumisse o cargo de interventor.
A advogada e líder feminista que poderia ter mudado o rumo da história do Paraná, como chefe do Governo Estadual, tornou-se, no entanto, uma das primeiras Promotoras de Justiça do país.
Josué Correa Fernandes, ex-prefeito de Prudentópolis é Juiz aposentado
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