Histórias do Paraná - Quem nasceu antes o carro ou a estrada?
Quem nasceu antes o carro ou a estrada?
Aryon Cornelsen
Foram muitas e profundas, radicais até, as transformações que o Paraná conheceu no início deste século.
A grande guerra de 1914 estimulara a exportação de madeiras e as serrarias começam a surgir em vários pontos do Estado,
avançando em áreas novas, agora já mais ligadas pelo sistema de estradas que vai se criando.
A tônica do transporte ferroviário vai se deslocando para as rodovias, mas os próprios traçados das estradas seguem propósitos de ocupação desordenada do território. E como essa embriaguez da velocidade, de vencer a corrida contra o tempo, empolgava todo o mundo, os "raides" de avião e automóvel se tornaram uma das paixões daqueles tempos.
As façanhas de intrépidos pilotos em seus pequenos aviões, principalmente quando em exibições nas cidades, atraíam verdadeiras multidões.
Quando sobrevoavam os campos então, era um Deus nos acuda! Não eram, poucos os que não queriam acreditar no que viam, que aquelas coisas, com um homem dentro, voavam mesmo.
Em todo caso, para os pilotos não havia maiores dificuldades em cobrir a distância entre uma cidade e outra: bastava um potreiro razoavelmente plano para levantar vôo e outro para pousar.
Diferente era a situação dos automo-bilistas pioneiros: sem estradas, ou algo que se assemelhasse a uma estrada, eles não podiam ir muito lon-ge>
Daí a excitação provocada pela façanha do comendador Francisco Fido Fontana, em 1920. Pioneiro do automóvel no Paraná, ele fez em oito dias a ligação Curitiba-São Paulo, seguindo o rumo da ferrovia na direção de Itararé. Isso para retribuir a façanha pioneira do estadista Washington Luis que, num reluzente "ITALA", viera de São Paulo até nossa capital, quando nem estrada existia, embora parcialmente o percurso tivesse sido feito com o carro transportado pelo trem.
No ano anterior já ocorrera um fato excepcional: o Cel.
Jorge Schimelpfeng, prefeito de Foz do Iguaçu e deputado provincial, fazia o maior "raide" da América do Sul, lá da região das Cataratas até o porto de Antonina - num total de 840 quilômetros - viajando em dois Ford, um de passeio e outro de carga-
A essa época, o governo estadual tocava a estrada estratégica hoje chamada BR-277, que iria dar, dali em diante, maior acesso ao oeste e às Cataratas, para que todos desfrutassem da sensação de espanto e beleza que o adelantado Alvar Cabeza de Vaca tivera o privilégio de ver séculos antes. E, porém, somente em abril de 1920 que há a viagem oficial em dois Ford, um Fiat, um Benz e um Izola entre Curitiba e Foz do Iguaçu. O engenheiro Moreira Garcez é um dos chefes da comitiva.
Tudo isso empolgava: o contato com os índios, a narrativa da exuberância da fauna e flora, hoje violentadas, eram o painel normal de um Estado que começava a conquis-tar-se por estrada que já não eram caminhos de selvagens e tropeiros.
Mais tarde, em agosto de 1926, o quartel da unidade militar de Foz é inaugurado. E o processo de integração em marcha.
Á essa época, acreditava-se que havia pinheiros no Paraná para uma exploração por 370 anos, o que não correspondia à realidade, pois dos 200 mil Km2 de superfície do Estado, apenas em 76 nül Km2 havia pinhais nativos.
Mas essa já é outra história.
Atyon Cornelsen é advogado, esportista e ex-presidente do Coritiba F. C.
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