domingo, 15 de junho de 2014

Histórias do Paraná - O galanteador na fossa

Histórias do Paraná - O galanteador na fossa

O galanteador na fossa
Antônio Padilha

O vale do Ivaí teve sua fase áurea com o "rush" da cafeicultura entre os anos de 1956 e 1966. Gente de todos os pontos do País chegava ávida por trabalho e pelo enriquecimento rápido.
Pequenos povoados se transformaram em prósperas cidades como Faxinai, Borrazópolis, Jardim Alegre e Ivaiporã, entre outras.
Os moradores das áreas rurais dessas localidades eram visitados periodicamente por um mascate conhecido por Turquinho, que trazia de São Paulo as novidades para as donas-de-casa e moças casadouras.
Das malas abarrotadas saíam blusas, anáguas, calcinhas, sutians, perfumes, sabonetes, linhas, alfinetes, agulhas, novelos de renda, botões coloridos e diversas bugigangas.
Após cumprir seu roteiro, as malas ficavam leves; era o momento de promover a liquidação na zona do baixo meretrício mais próxima.
Os coronéis não pechinchavam e atendiam os pedidos das quengas com grande generosidade.
Com o passar dos anos, Turquinho adquiriu os hábitos e o linguajar típicos dos moradores, passando a usar expressões como "Oxente Brimo", "Sartei de Banda Tchê", "Arranquei Pena Brimo", tornou-se torcedor do Corinthians e apreciador de uma cachacinha, transformando-se no mais brasileiro dos turcos que apareceram na região.
Nos dias chuvosos, com as estradas intransitáveis, Turquinho matava o tempo em algum boteco contando casos pitorescos; principalmente de um picareta de terras conhecido por João do Rolo, um baiano metido a galã e conquistador que passou a assediar Adelaide, mulher do comerciante Tião Gaúcho.
Bastava o gauchaço sair com seu jeep 51 para fazer compras em Apucarana, quando ficava ausente por um ou dois dias, que, de imediato, João do Rolo se aproximava de Adelaide com seus galanteios.
Como boa comerciante, Adelaide levava na esportiva, mas, foi se cansando do assédio e decidiu deixar o marido a par da situação.
Juntos, tramaram um castigo para o picareta assanhado.
Ao ver Tião saindo para mais uma viagem, o garboso galã correu até a venda e começou a enaltecer os encantos de Adelaide.
Desta vez ficou surpreso e radiante de felicidade, quando a pretendida concordou em recebê-lo em casa, após o fechamento do estabelecimento às 21 horas.
No horário combinado, a porta estava entreaberta, a luz de vela dava um toque de sensualidade e um clima de pecado.
Adelaide, com uma garrafa de vinho e de dois copos, sorriu para João e começaram a conversar.
Passados menos de cinco minutos, ouve-se o jeep de Tião adentrando a garagem.
Desespero total; o galã não sabia o que fazer, pela frente não poderia sair, pelos fundos não havia saída.
Atende então a sugestão de Adelaide, pula a janela e corre para a privada do quintal, cujo assoalho havia sido retirado, e mergulha na fossa.
A trama dera certo.
Com todas as lâmpadas acesas, a polícia é chamada, João do Rolo gritando por socorro, curiosos se aglomeraram, os familiares de João chegaram envergonhados e ajudaram os policiais a tirá-lo do vexame.
Turquinho garante que o picareta foi de mala e cuia para o Mato Grosso, levando o cheiro insuportável da amarga aventura.
Mahamud Nagi Ibrahim, o Turquinho, em seu bar em Ivaiporã, conta casos memoráveis de uma época que deixou saudades.

Antônio Padilha, jornalista em Ivaiporã.


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