Histórias do Paraná - A reação do candidato
A reação do candidato
Lauro Grein Filho
Corria o ano de 1955... E Castro, a pérola do Iapó, contrastava sua habitual serenidade, embalada nas emoções do pleito eleitoral, próximo e renhido.
No Diretório do PSD, somava esforços com o presidente Vespasiano Carneiro de Mello no comando de operações e estratégias contra os poderes de uma UDN fortíssima, sedimentada e engrandecida pelas mais tradicionais cepas da terra. A eleição prenunciava-se altamente renhida e a conquista da Prefeitura dependia, fundamentalmente, de uma boa chapa de vereadores.
Com eles e seus cmpenhos, viriam implicitamente os votos para o prefeito e para a vitória.
Em Distrito importante, de quatro mesas receptoras, morava um senhor idoso de reconhecidas potencialidades eleitorais.
Comerciante próspero e conceituado, alimentava no fiado e no compadrio o maior prestígio do bairro.
Por isso lá estávamos àquela larde, em seu estabelecimento e residência, distante 70 quilômetros da cidade, a tentar de qualquer maneira seu ingresso em nossos <|uadros.
Resistente ao assédio das agremiações adversárias que já o haviam procurado, o homem lambém não quis vir conosco na parada.
Baldados os esforços, esgotados os argumentos, decidimos bater à porta de outro companheiro, também morador da região e membro do Diretório local.
Era um jovem recém-chegado na vila, despretensioso e tímido, sem grandes projeções no lugarejo e adjacências.
Convidado, após alguns momentos de perplexidade e ensaios, resolveu finalmente aceitar.
De regresso à cidade, lamentávamos o malogro da viagem, deplorada na alternativa de um candidato inexpressivo e inviável. A escolha, de resto, inconformou os demais companheiros, e exigiu-se uma reformulação capaz de maiores chances e probabilidades.
As coisas não podiam, mesmo, continuar assim... E para melhorá-las, uma semana depois voltamos ao velho, teimando no pedido e na insistência.
Acuado ante a argumentação inclemente e obstinada, o homem afinal cedeu a figurar glorioso e destacado em nossa chapa.
Restava agora eliminar as pretensões do jovem correligionário, desfazer o trabalho errôneo de dias atrás e que resultara no equivoco de uma candidatura a esta altura totalmente indesejável.
Junto a ele debulhamos uma série de ponderações e conselhos.
Mas desta feita no sentido contrário, desdizendo as conversações anteriores, sugerindo e animando-o à renúncia e à desistência. O moço imediatamente compreendeu e de bom grado nos liberou, com reforços de fidelidade partidária e juras de apoio ao novo candidato do qual se confessava amigo e admirador. O retorno foi eufórico, com gozos antecipados dos desesperos da oposição.
Não foram necessários, entretanto, muitos dias para sabermos do tal jovem e já não nosso companheiro, engajado em outro partido a trabalhar com todas as forças em prol de sua candidatara que já despontava vitoriosa. E, na revolta e na raiva, correndo e lutando, batendo e brigando, conseguiu alcançar um convincente e esmagador triunfo.
A nós restaram as reinaçÕes do velho... Indeciso e irresoluto, apático e insensível a todos os estímulos, trôpego e claudicante, acabou desistindo em meio à jornada, farrapo aparvalhado completamente inútil.
Amargamos séria derrota no Distrito, tido e havido como reduto de nossa incontestável supremacia.
E provável que histórias como esta se contem e se repitam nas regras das pelejas interioranas.
Mas quem apanha nunca esquece.
Recordo-a por isso, nas implicações do seu conteúdo moral e ético a advertir que jamais se deve menosprezar quem quer que seja.
Porque a natureza não tolera e violentamente explode em reações imprevisíveis, quando ferida no seu amor próprio, na sua honra e nos seus brios.
Lauro Grein Filho, médico, presidente de Centro de Letras do Paraná em 1993
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