sexta-feira, 13 de junho de 2014

Histórias do Paraná - Maleita e confusão

Histórias do Paraná - Maleita e confusão

Maleita e confusão
Joaquim Néia de Oliveira

Nestes tempos em que novos municípios são criados a três por quatro, ao sabor das injunções políticas, não deixa de ser curiosa a história de Espírito Santo do Itararé, criado em abril de 1900 às margens do Rio Itararé, no norte pioneiro, e extinto apenas 8 anos depois, embora experimentasse um razoável progresso.
Acontece que um surto epidêmico de maleita transformou totalmente os sonhos de seus habitantes. A população apavorada, ao presenciar vidas preciosas serem dizimadas pela terrível epidemia, reuniu-se com as autoridades municipais e, juntas, decidiram mudar a sede do município para um povoado que prosperava em outro ponto do território, com o nome de Ribeirão Claro.
Contando com o apoio do deputado da região, Emílio R. Gomes, não foi difícil aprovar a lei estadual criando o novo município, cuja instalação deu-se em 1908, com a conseqüente extinção de Espírito Santo do Itararé.
O novo município cresceu rápido. A exuberância de suas terras atraiu o interesse de agricultores mineiros e paulistas, que por sua vez trouxeram um grande número de imigrantes japoneses e italianos, para dar início ao ciclo cafeeiro no norte do Paraná.
A criação da Comarca foi uma decorrência desse progresso, com a designação do primeiro Juiz de Direito, o bacharel Eudoro Cavalcante de Albuquerque, que permaneceu na Comarca 19 anos, tornando-se inclusive, chefe político no município.
Tanto uma coisa como outra eram fáceis de explicar atentando para o parentesco de Eudoro: ele era casado com uma irmã de Afonso Camargo (avô do atual senador "Afonsinho"), político dos mais influentes que seria duas vezes governador do Estado.
Essa situação criou um clima de constrangimento entre parte dos moradores. E as conseqüências não tardaram a eclodir.
Por ocasião de uma eleição em 1917, três cidadãos foram mortos em pleno recinto da sessão eleitoral e, mais tarde, um médico também tombou sem vida enquanto empreendia fuga em companhia do vigário da paróquia.
Sobrou até para o padre, atingido que foi em um dos braços por uma bala.
O clímax desse estado de coisas vai acontecer alguns anos mais tarde, quando o engenheiro José Kennitz Moreira Lima, fazendeiro de café, se elege prefeito municipal, em 1924. Os seus desafetos aprovam, através da Câmara Municipal, uma lei cassando o mandato do prefeito, por este ter se ausentado do município por mais de sete dias, sem a devida licença.
Ao tomar conhecimento, o prefeito cassado retorna ao município, reúne 200 capangas armados ate os dentes, toma a prefeitura, fecha a Câmara Municipal e reassume na marra.
Todavia, com a posse de Afonso Camargo no governo do Estado, para o segundo mandato, em 1928, foi determinado o deslocamento de um pelotão da Polícia Militar para "restabelecer a ordem". De quebra, o governo nomeia o cidadão Pedro Ivo Marques para exercer o cargo de prefeito.
Afonso Camargo teria o "troco" em 1930, por ocasião do movimento revolucionário comandado por Getúlio Vargas. O prefeito "cassado" Moreira Lima, que se engajara nesse movimento, tão logo viu-se vitorioso, com a deposição de Washington Luiz e do governador Afonso Camargo, novamente toma de assalto a Prefeitura, destitui o pre-feito-interventor e promove tenaz perseguição contra o Meretíssimo Juiz, que abandona a cidade, Novo contingente da Polícia Militar é deslocado por ordem do interventor do Estado, general Mário Tourinho, para novamente restabelecer a ordem.
Joaquim Néia de Oliveira é ex-prefeito e ex-deputado por Ribeirão Claro.


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