quarta-feira, 18 de junho de 2014

Histórias do Paraná - Usina de apelidos (3)

Histórias do Paraná - Usina de apelidos (3)

Usina de apelidos (3)
Luiz Geraldo Mazza

Em Paranaguá seria perfeitamente possível, pelo menos alguns anos atrás, imaginar-se uma lista telefônica somente com apelidos. E que hoje, com as mudanças culturais operadas, já não há, como antes, aquela rapidez de corisco no caricaturar as pessoas.
Um baixinho reclamador, bom de bola, numa pelada, só se desmancha no momento em que um atacante do seu time reclama: "solta a bola, meia Brahma!"
Lembro de um jogo de basquete em que o defensor Elias da seleção de Ponta Grossa, - ágil e felino nos rebotes, de um negro quase azulado, - não agüentou e até perdeu o domínio da bola quando o apelidaram de "chicletes de onça".
Em 1950, irritado com a passividade (assim eu os enxergava) do pessoal mais jovem, que não dava a mínima pela campanha que eu deflagrara pelo "Diário do Comércio" em defesa do ensino superior na cidade, criticava o envolvimento de todos na decepção havida no Maracanã com a seleção brasileira que perdera do Uruguai.
Certa manhã, embaixo da ta-mareira (a única, que eu saiba), na praça Fernando Amaro, estava numa discussão sobre o assunto, acreditando que com a derrota do Brasil talvez o pessoal despressurizasse e voltasse à realidade. E estava, passionalmente, nesse tom, quando
o Chiquito Louco notou que minha calça de brim tinha linhas verticais sucessivas, e tascou: "lá vem você com essa calça de caderno de linguagem!"
Uma passagem interessante foi a do fotógrafo Sérgio Matulevicius com aquela carantonha de imigrantes, encarregado de fazer a cobertura do quebra-quebra na cidade por causa da falta de energia. Sérgio viajou com as pernas encolhidas no toco duro do trem de segunda classe e, absorto pela paisagem da serra, não percebeu que suas pernas ficaram dormentes por falta de circulação.
Ao chegar à cidade, para reativar a circulação, batia ritmadamente com os pés no chão e, com a "Roleiflex" a tira colo, passou, com aquela sua expressão aturdida, a pedir informações sobre o quebra-quebra.
Quando chegou na segunda rodinha já estava carimbado: era o robô curioso

Luiz Geraldo Mazza, parnaguara, jornalista


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