Histórias do Paraná - Maringá Maringá
Maringá Maringá
Abílio Alves da Silva
"A terra prometida!" Era assim que o Norte do Paraná era mostrado, em 1948, numa extensa reportagem na revista "O Cruzeiro", espécie de Rede Globo impressa daqueles tempos.
Aventura e possível prosperidade, era tudo o que um jovem com a idade de 25 anos, cheio de entusiasmo e esperança no futuro, poderia desejar naquele momento.
Daí que pedi desligamento do batalhão do Exército onde estava engajado, na Vila Militar no Rio de Janeiro, e fui ao encalço da terra prometida.
Fui com a cara, a coragem, a força de vontade, muita disposição que só.
Sem conhecer ninguém no novo Eldorado, dinheirinho minguado no bolso. A viagem, de trem
até Ourinhos, na divisa de São Paulo com o Paraná, em locomotiva a diesel, moderna para a época
De lá pra frente, fui de "Maria Fumaça" até onde o trem podia me levar, Apucarana, o fim da linha.
Meu primeiro contato com a terra prometida" não foi, porém, lá essas coisas.
Bati perna em Apucarana sem conseguir nenhuma
colocação de emprego. "Vá mais pra frente", me aconselhavam. E fui.
De carona e até a pé cheguei em Mandaguari, procurei emprego no
escritório da Companhia
Melhoramentos Norte do Paraná e consegui colocação, não ali, mas um pouco mais para a frente.
Fui designado para trabalhar na abertura da Cidade de Maringá.
As cidades do Norte Novo, região de Londrina, já estavam implantadas há alguns anos.
No chamado Norte Novíssimo, porém, ainda tinha chão por desbravar, as cidades estavam sendo formadas por essa época.
Maringá, por exemplo, era nada ou quase nada; nem município era, o que só ocorreu em 1951.
Ganhei condução própria para ir até Maringá: um burrinho selado.
Nele, eu mais parecia um "Sancho Pança". Chegando em Maringá, fui recebido pelo Dr. Alfredo W. Niffeler no escritório da Companhia, e dele recebi a ordem de trabalho: fiscalização florestal das terras da Companhia.
Naquela época existia muito roubo de madeiras, principalmente cedro.
Daí que, é fácil imaginar, meu serviço não era dos mais fáceis, cheguei a ser jurado de morte por ladrões de madeira.
Numa noite, regressava de caminhonete quando fui emboscado na estrada da cidade.
Eles eram três, dispararam dez tiros e só acertaram dois.
Eu disparei seis, acertei apenas um. Éramos todos ruins de tiro.
Fiquei 22 dias no Hospital Maringá, do Dr. Geraldo Braga (pai de Sônia Braga) e graças a Deus dessa escapei.
Os ladrões foram presos e removidos para Londrina, onde seriam julgados.
Um jornal chegou a publicar uma manchete: "Assim como existiam juizes em Nuremberg, esperamos que aqui também existam". Juiz havia, mas os bandidos compraram o carcereiro por 100 cruzeiros e escafederam-se antes de serem julgados.
Naquele tempo havia duas Maringás, a velha e a nova, mais a vila operária, A velha tinha umas poucas casas boas, a maioria era um favelão; a nova tinha muitas casas, mas boa parte delas fechada, eram construídas só para cumprir contrato, seus moradores não passavam de 66, quase todos empregados da Cia. de terras.
Vi, portanto, Maringá nascer. E com o mesmo carinho com que acompanhei o crescimento de minha filha Marialva, a primeira mulher nascida em Maringá a se formar em Direito.
Se hoje conto essa história, é porque ela não é só minha.
Dezenas, centenas de pessoas, vindas dos mais diversos pontos do país, protagonizaram aventura
semelhante. A aventura de ajudar a nascer o hoje rico Norte do Paraná.
Abílio Alves da Silva, pioneiro na fundação de Maringá
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