domingo, 19 de outubro de 2014

Histórias do Paraná - Deu nas páginas

Histórias do Paraná - Deu nas páginas

Deu nas páginas
Emígdio R Corrêa

Fazer jornal é muito complicado. Não é para menos que jornalista (de jornal) tem fama de maluco.
De fato.
Uma loucura. É como armar uma escola de samba para desfile.
Escola do Rio de Janeiro, é claro.
Os diversos setores, embora sob um comando único, têm tarefas específicas, problemas típicos.
Mas as coisas acabam se encaixando, embora às vezes a bateria perca a cadência, o puxador do samba atravesse ou o carro principal quebre o eixo na entrada da avenida. E o bloco ganha as ruas.
Um universo muito complexo. E cheio de complexos.
Por exemplo: a eterna guerra entre revisão e redação.
Vai por aí. O leitor comum não sabe a mão-de-obra que é fazer uma edição de jornal.
Para tudo acabar ao meio-dia, ou início da tarde. O jornal deixou de ser um produto fresco. E altamente perecível.
Vai daí que o cidadão deve relevar certas coisas, embora os jornais mantenham permanente esforço para saírem perfeitos e o leitor, enquanto consumidor, tenha todo o direito de reclamar.
Haja Procon.
Não muito tempo atrás, a costumeira troca de fotos na montagem criou um problema sério no Paraná. O jornal (vamos omitir o nome em solidariedade a todas as vítimas) anunciava, na página de turfe, que a égua tal estava muito cotada no quinto páreo.
Ilustrando o texto, a foto de uma madame da alta sociedade.
Na página social, sob a foto de um belo animal, crina no capricho, a legenda anunciava que a dona fulana estava fazendo o maior "su" no eixo Rio-São Paulo.
Casos como esse já não são tão comuns, mas insistem em macular a história da imprensa.
Existe, também, o erro intencional.
Um figuraço da cidade, vaidoso e mais lustroso que laranja de amostra em feira-livre, insistia em aparecer seguidamente na coluna social. O secretário da redação não suportava mais o chato.
Um dia, a vingança.
Mandou publicar a foto, com destaque (a legenda já vinha pronta, cheia de elogios) e, para espanto do diagramador, seguiu junto para a composição o bilhete do indigitado cidadão:
- Por favor, fulano, me dê uma força publicando esta nota sobre a minha própria pessoa.
Estou na pior, preciso de toda ajuda possível.
Obrigado, beltrano.
Ao que consta, nunca mais o colunável pintou nas páginas.

Emígdio R Corrêa, jornalista bissexto


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