quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Histórias do Paraná - Um peixe para seu Amador

Histórias do Paraná - Um peixe para seu Amador

Um peixe para seu Amador
Odmir P.C. Valsecchi

Esta historinha me foi contada por um velho amigo, pioneiro do Norte do Paraná.
Contava-me ele, logo após a morte do Sr. Amador Aguiar que em Maringá, no decorrer da década de cinqüenta, havia um corretor de café e de terras que estava muito bem de vida, mas por uma descarga do infortúnio acabou se atrapalhando nos negócios e teve que vender tudo e recomeçar a vida completamente zerado.
Como esse cidadão era bom pescador amador, e possuía barco e redes, resolveu ir pescar profissionalmente para sobreviver.
Assim foi que se instalou no Paranazão no região de Guaíra, mas no primeiro dia, após bater rede de baixo pra cima e de cima pra baixo, acabou pescando um único Dourado, peixe de bom porte.
Como já estava cansado, resolveu parar naquele dia e aportou seu barco perto do trapiche da balsa que fazia a travessia para Mato Grosso.
No porto, um senhor alto achou bonito o peixe e se propôs a comprá-lo.
Era o banqueiro Amador Aguiar, fundador do Bradesco, mas o nosso pescador não o conhecia e travou-se mais ou menos o seguinte diálogo:
- Quanto quer pelo peixe?
- Nem sei, é o primeiro que pesco.
Sabe de uma coisa, prá me dar sorte nesta nova vida vou lhe dar de presente.
O senhor Amador, meio constrangido, insistiu em pagar e o pescador insistia em dar.
Em decorrência disso o papo se alongou enquanto aguardavam o retorno da balsa, e o banqueiro deu um cartão e se identificou ao neo pescador, acrescentando que se o mesmo, que era conhecedor de terras, achasse alguma fazenda boa na região, ele estaria interessado na compra, acrescentando ainda que podia se dirigir a uma fazenda ali perto, do próprio Amador, e contatar pelo rádio com São Paulo.
O pescador não levou muito a sério, achou que era uma simples gentileza e que para falar com um homem daqueles era tão difícil quanto falar com um Presidente.
Assim mesmo guardou o cartão e continuou vegetando pelas barrancas do Rio Paraná, até que um certo dia, decorridos já seis meses do encontro, soube de uma boa fazenda de cinco mil alqueires cheia de gado, especulou o preço e, lembrando-se do cartão, resolveu ir até a fazenda do Seu Amador para contatar com São Paulo. Não punha muita fé, mas foi.
Foi bem recebido na fazenda e o capataz passou o rádio para Seu Amador com os detalhes e preço. O capataz avisou que o novo contato era somente à tarde, e o pescador saiu e retomou na hora aprazada, ficando um tanto decepcionado, pois não veio resposta alguma e nem no dia seguinte.
Estava crente que o assunto havia morrido, mesmo assim desanimado retornou no terceiro dia. O capataz, ao avistá-lo de longe, gesticulava com um bilhete na mão e cara de felicidade, passando às mãos do pescador a seguinte mensagem:
- ‘Pode fechar negócio fazenda vg amanhã cedo segue ordem pagamento juntamente com o procurador para ultimar transferência pt saudações Amador Aguiar."
No dia seguinte pousava na fazenda um avião com o procurador, o qual fez todos os acertos e ainda trouxe um recado ao pescador.
- Pode procurar mais fazendas, o chefe disse que confia em sua palavra.
Com uma carta branca desse tipo o pescador renasceu e só foi cuidar de procurar mais fazendas.
Dizem que comprou mais de dez para o Sr. Amador e ficou amicíssimo do mesmo.
Para encerrar a história, conta-se que o pescador virou fazendeiro forte e mora em Londrina.

Odmir P. C. Valsecchi, dentista em Jandaia do Sul


Nenhum comentário:

Postar um comentário