sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Histórias do Paraná - Um veterano do Paraguai

Histórias do Paraná - Um veterano do Paraguai

Um veterano do Paraguai
Astrogildo de Freitas

Conheci seu Maneco Demétrio na Mandaçaia, onde residia e mantinha, como um dos seus afazeres, uma loja razoavelmente sortida com os principais artigos de primeira necessidade. O estabelecimento era atendido por Ernesto de Oliveira, seu parente consagüíneo, que com dedicação exclusiva delineava os seus afazeres.
Os trabalhos nas áreas de agricultura e pecuária das propriedades eram atendidos pelo próprio, ajudado por camaradas contratados para essas finalidades.
A povoação localizada a cerca de três léguas da cidade de Palmeira, na rodovia que demanda o sul do Estado, servia, principalmente, de ponto de referência para a entrada da colônia de Santa Bárbara, agora acrescida dos lotes da ex-colônia Cecília.
Manoel Demétrio de Oliveira era veterano da Guerra do Paraguai, para onde fora como voluntário da pátria e onde permaneceu por vasto período.
Recebeu ferimentos que lhe deixaram cicatrizes, inclusive aquela ganha ao interceptar um golpe de lança ou espada, desferido por um inimigo contra o corpo do comandante em chefe das forças da tríplice aliança, o então Marques de Caxias, de quem fazia parte da escolta como cabo ajudante de ordens.
Esse episódio aconteceu no intenso fragor da batalha pela travessia do Itororó, uma das mais violentas daquela guerra e só definida com a presença e o arrojo do valoroso e incontestável comandante das forças aliadas, em operação. A atitude corajosa e a pronta intervenção de Manoel Demétrio de Oliveira impediu alterações na integridade física do comandante, fato que, se acontecido, provocaria o seu afastamento do teatro de operações e o conseqüente prolongamento das hostilidades.
Todavia, a interceptação do golpe quase lhe decepara a mão direita.
Por esse ato de bravura lhe foi atribuída a promoção ao posto de sargento, a qual recusou incontinen-te.
Para si não houvera nenhum mérito na sua atuação, pois ele estava ali no seu posto, justamente para proceder dessa forma.
Manoel Demétrio de Oliveira, casado com Maria Rosa Stockler de Oliveira, filha do capitão Antonio Pereira Bueno Stockler, e também veterano daquela guerra sangrenta, criou uma filha, Adelina Rosa de Oliveira, e era irmão de Diogo Antonio de Freitas e de Teófilo José de Freitas, residentes na cidade de Palmeira.
Veterano de guerra, sempre pautou as suas ações e atos com uma integridade rígida, beirando ao exagero. Não tolerava o desperdício.
Mas não mantinha entre as suas parcimônias a usura. A sua mesa era farta e liberada a todos os presentes, da casa ou visitantes.
Em 20 de agosto de 1964, foi-lhe prestada uma homenagem póstuma, com o comparecimento ao cemitério de Palmeira de avantajado número de pessoas. O ato contou com a presença da banda de música e alguns militares do 13° Regimento de Infantaria, sediado em Ponta Grossa, que vieram especialmente para prestigiar a homenagem.
O acontecimento está perpetuado com a fixação de uma placa de bronze no túmulo desse veterano de guerra.

Astrogildo de Freitas, membro do Centro de Letras do Paraná


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