domingo, 26 de outubro de 2014

Histórias do Paraná - Perdidos na escuridão

Histórias do Paraná - Perdidos na escuridão

Perdidos na escuridão
Adil Calomeno

No início da década de 60, algumas empresas de ônibus faziam o transporte de passageiros entre as principais cidades do Paraná em veículos que venciam grandes distâncias por estradas sem pavimentação, envoltos em densas nuvens de poeira, ou enfrentando o frio e a lama quando chovia.
O avião, em bom ou mau tempo, possibilitava o deslocamento de pessoas com maior rapidez.
Operavam os Táxis-aéreos, BOA, RETA, TASUL, VICENTE, AMERICANO e outros que, com pequenos aviões monomotores, cruzavam sem cessar os céus do Paraná, atingindo os mais longínquos e precários campos de pouso.
As Empresas Aéreas que possuíam aviões bi-mo-tores, SADIA, VARIG, AEROVIAS BRASIL e REAL, mantinham linhas regulares entre as principais Cidades.
Sobrevoando o território paranaense com destino a Londrina, um Douglas DC-3 deveria lá pousar no final da tarde, se tudo transcorresse normalmente. O tempo estava bom e o vôo tranqüilo, apesar da previsão de trovoadas isoladas na rota.
Grandes nuvens cúmulos, parecendo enormes bolas de sorvete, proporcionavam um espetáculo de rara beleza.
No horizonte, bem distante, via-se uma imensa nuvem cúmulos-nimbos (CB), cuja base escura varria as extremidades num balé macabro e assustador.
Desviando pela esquerda — procedimento usual no hemisfério sul — acompanhando a direção dos ventos, o pesado avião entrou numa região de severa turbulência, com fortes ventos de rajadas.
Subia, descia e sacudia sem cessar.
Os comandos não obedeciam, parecia que as asas iam soltar-se.
Os passageiros gritavam apavorados. O Comissário de bordo, inexperiente, não conseguiu acalmá-los, dirigiu-se ao Comandante: "O que devo fazer para acalmar esta gente?"
- Em primeiro lugar, acalme-se.
Mande fixar bem os cintos de segurança, abaixar as cabeças, colocar as mãos sobre a nuca, fechar os olhos e rezar.
Mas, em silêncio! -gritou o Comandante.
Os minutos pareciam séculos.
As luzes se apagaram. O Radioperador gritou: "Os rádios estão em pane!" Mas ele trazia consigo um pequeno rádio de pilhas para escutar (corujar) os radioamadores. A noite caiu rapidamente.
Os motores soavam uníssonos, levando o avião a esmo para uma região escura e despovoada. A turbulência aos poucos foi reduzindo.
Embaixo, nuvens esparsas encobriam o terreno, permitindo ver, nos intervalos, as luzes de pequenos povoados.
Mais distante, à esquerda, havia uma região mais iluminada; era uma cidade que se descortinou, quando o avião atingiu um nível mais baixo. "Que cidade é essa? E Maringá?... Paranavaí, também não é. Aloísio, cadê o radinho de pilha?" Perguntava o Comandante ao Radioperador.
O avião voava em círculos para não se afastar da Cidade.
Aloísio sintonizou no seu radinho uma estação de rádio local.
Irradiava um programa musical.
Durante mais de meia hora irradiava músicas regionais com extensas dedicatórias às namoradas, primos, primas e toda a família, mas não citava o seu prefixo nem o nome da cidade.
Aloísio mudou para outra faixa e sintonizou a estação de um Radioamador. "Finalmente descobri! E Campo Morão", disse o Radioperador eufórico. "Estou ouvindo o PY5-QJ. Radioamador não falha, dá sempre o prefixo e a cidade.
Agora é só traçar no mapa o rumo para Londrina e rezar para não encontrar outro CB". Chegaram em Londrina sãos e salvos, cantando e dando vivas à tripulação.

Adil Calomeno, engenheiro civil e aviador


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