Histórias do Paraná - Viva a diferença!
Viva a diferença!
Ayrton Ricardo dos Santos
Há, na Avenida Cândido de Abreu, um terreno baldio, servindo, hoje, para estacionamento de automóveis.
Ali existia, até pouco tempo, um dos mais bonitos prédios da cidade: o Teatro do Trabalhador.
Construído no início dos anos 70, quando o engenheiro Mário de Mari presidia a Federação das Indústrias do Paraná. Projeto arquitetônico de Rubens Meister, garantia de beleza estética e funcionalidade.
Bastante recuado da rua, deixava espaço suficiente para os canteiros de um jardim com magníficas flores ornamentais e pátio amplo, para abrigar os carros dos freqüentadores.
A fachada principal, em vidro blindex, seguia-se espaçoso "hall" com piso de granito.
Entre as duas escadarias laterais em mármore branco, ficavam os sanitários com seus balcões e lavatórios também em mármore... Houve quem dissesse ser aquilo, um luxo a que os operários não se iriam adaptar... Ledo engano como Meister previa, ao argumentar com sabedoria e paciência:
- "Se não lhes dermos instalações convenientes, como irão aprender a usá-las?"
As escadas laterais davam para o auditório a cuja frente um palco enorme abrigava, inclusive, uma cancha poli-esportiva para torneios internos. O forro, de madeira nobre artisticamente trabalhada, permitia os espaços necessários para adequada iluminação indireta.
No auditório, amplo e arejado, dispunham-se poltronas estofadas, em couro vermelho.
Ao vê-las, alguém lembrou, apreensivo:
- "O Dr. Otávio Ferreira do Amaral Neto, quando exercia a Superintendência do Teatro Guaíra, confidenciou, certa vez, que precisava dispor de uma verba especial considerável para reparar estragos, cortes a canivete ou navalha nas poltronas do Guairinha, freqüentado pela fina flor da sociedade local..."
Durante seu funcionamento, até ser destruído por um incêndio, a 3 de junho de 1991, realizaram-se, no Teatro do Trabalhador, inúmeros e importantes eventos de toda a natureza; representações teatrais, encenações de peças infantis que faziam o deleite dos filhos de industriários, principalmente dos que freqüentavam os jardins de infância do Sesi; encontros de corais e de conjuntos musicais e os apreciadíssimos festivais de música popular brasileira, com o auditório sempre super lotado e o povão cantando e dançando na platéia as músicas executadas, no palco, pelos conjuntos musicais.
Um delírio!...
Em mais de 15 anos de atividade não houve registro de cortes, navalhadas ou danos intencionalmente causados nas poltronas, sanitários ou outras dependências do teatro...
E viva a diferença!...
Ayrton Ricardo dos Santos, Médico, foi superintendente do Sesi
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