Histórias do Paraná - Bateu Levou!
Bateu Levou!!!
Olavo Alberto de Carvalho
Não é privilégio de Curitiba ter um prefeito gordo, lépido e, sempre, bem humorado.
Ponta Grossa o teve muito antes e, com certeza, levou vantagem no que toca à massa dos edis:
Victor Antônio Baptista, que governou Ponta Grossa no quatriênio 1924/28, pesava cento e sessenta e cinco quilos mas não se dava conta dessa carga.
Movia-se leve como uma pena, apressado e com postura, gestos, entonação e intensidade de voz de um gaúcho campeiro.
Guiava, na "vertiginosa" velocidade de uns vinte quilômetros horários, um fordeco modelo 1922 (daqueles de três pedais, sem alavanca e caixa de mudanças), identificável à distancia pela pronunciada inclinação da carroceria para o lado do motorista, levantando nuvens de poeira pelas ruas, naquela época, em maioria sem pavimentação.
Ponta Grossa, então segunda cidade do Estado, não tinha ainda 40.000 habitantes, e o interior do Paraná acabava, ao norte, em Jacarezinho, e a oeste, penando muito, em Laranjeiras do Sul.
Cascavel e Foz do Iguaçu eram, praticamente, o que hoje chamamos de povoação.
As estradas, poucas, de leito natural e sem conservação. Não havia um metro, sequer, de macadame ou outro qualquer revestimento.
Pouquíssimos automóveis - a maioria Ford - cuja velocidade em terreno plano e sem buracos, a toda força do motor, mal alcançavam sessenta quilômetros por hora. E quando algum maluco conseguia isso, virava notícia e passava a ser olhado com respeito e admiração.
Viagens para quaisquer cidades a beira da linha férrea só de trem.
No interior, viajava-se de carrocinha puxada por dois cavalos ou a cavalo.
Raramente um automóvel se dispunha a enfrentar os buracos, os areais, as íngremes ladeiras (que os Ford só venciam em marcha à ré) e, principalmente, o risco de chuvas nas estradas estreitas e poeirentas ou - pior ainda — argilosas.
Na política, dois partidos se digladiavam para as eleições, feitas a "bico-de-pena", com número reduzido de eleitores (só homens) sujeitos, em geral, à orientação dos coronéis, chefes políticos.
Em 1924 disputavam a prefeitura de Ponta Grossa, pela situação, Victor Antonio Baptista, fazendeiro e delegado de polícia e, pela oposição, Vicente de Castro, comerciante e forte industrial de erva mate.
No entretanto, foram suspensas as eleições em virtude da revolução chefiada por Izidoro Dias Lopes e ao Presidente do Estado, Dr.
Caetano Munhoz da Rocha, coube a tarefa de nomear os prefeitos municipais. Não é necessário ser muito arguto para concluir que, não só a escolha, mas todo o prestigiamento do Governador do Estado recaísse na pessoa do correligionário do Presidente.
Vicente de Castro, após alguns dias da posse do novo prefeito, partiu, amargurado, para Curitiba.
De lá, não suportando a "dor de cotovelo", resolveu ferir o opositor, escarnecendo da sua obesidade.
Passou-lhe o telegrama:
VICTOR BAPTISTA
PONTA GROSSA
Porco gordo vg aqui vg pelo pé vg cinco mil a arroba pt"
O novo prefeito respondeu prontamente:
VICENTE CASTRO CURITIBA
Burro velho vg aqui vg sem cotação pt"
Olavo Alberto de Carvalho, empresário em Ponta Grossa
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