quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Histórias do Paraná - Tapera dos pessegueiros

Histórias do Paraná - Tapera dos pessegueiros

Tapera dos pessegueiros
Reginaldo de França

Dia 13 de abril de 1949. Serraria São João, Município de Jaguanaíva.
Inicio da noite.
Mamãe, deitada em seu quarto, não passava bem.
Rubens nascera pela manhã. Parto difícil, complicado, assistido pela parteira do local que, com suas limitações, fizera o possível.
A porta do quarto se abriu.
Passos.
Mamãe virou-se.
No lusco-fusco viu aproximar-se de seu leito um homem.
Baixo, de chapéu de abas largas, falou:
- "Viu! Na Tapera dos Pessegueiros tem um dinheiro enterrado.
Pode ficar c’o dinheiro. Só leve meu corpo pro campo santo".
O desconhecido virou-se e saiu pela mesma porta que entrara.
Surpresa, susto, depois o pânico.
Mamãe gritou pela vovó Isabel, sua sogra e companheira dedicada, sempre presente cada vez que um novo neto vinha ao mundo.
Disse-lhe que havia um homem dentro de casa.
Vovó, apavorada, de lamparina na mão, rezando em voz alta o Credo, o Pai Nosso, a Ave Maria e todas as orações que conhecia, vasculhou todos os cômodos.
Nada. A recaída.
Papai, chamado às pressas na serraria.
Providenciado um veículo, mamãe foi levada ao hospital em Itararé.
Refeita, dias depois, retornou.
Pediu a uma dos meninos, o mano Domicel, que a levasse até a Tapera dos Pessegueiros. A Tapera, casinha de barro e sapé, abandonada, era cheia de pessegueiros que se projetavam inclusive do interior das ruínas.
Viu e silenciou.
Tempos após, papai foi transferido para Itararé. Mamãe então resolveu contar-lhe o episodio vivido.
Papai e Tio Dito programaram "uma pescaria" para ir em busca do dinheiro.
Temporada de chuvas, acesso impossível.
Era necessário aguardar um dos caminhões que viesse da serraria depois que firmasse o tempo.
Com o primeiro caminhão, a notícia. O foguista da serraria, homem humilde, prole numerosa, encontrou enterrado sob a taipa da Tapera um pote de barro cheio de moedas de ouro e prata.
Estava rico.
Depois adquiriria fazendas e outros negócios.
Acabara o sonho.
Porém a confirmação. Não era um delírio puerperal.
No campo santo, alcançara o descanso eterno o baixinho de chapéu de abas largas.

Reginaldo de França, advogado e agente fiscal da Receita Estadual


Nenhum comentário:

Postar um comentário