Histórias do Paraná - O operário em construção - Poty
O operário em construção - Poty
Valênáo Xavier
Os documentos que serviram de base para estas histórias encontram-se no Arquivo Público do Paraná.
A pesquisa foi feita pela historiadora Walkiria Pereira Romeu.
Hoje, 29 do três, áries, de não sei que ano, Curitiba faz aniversário, a Catedral também comemora alguma coisa, não é dia de Santo Antônio, é dia do aniversário do Poty: 70 anos, número cabalístico.
Ou será que é 7?
Ele está lá no alto sentado na tábua do andaime da Catedral em obras, suas pernas balançam no vazio.
O czar Ivan, o Terrível ocupou o trono ainda menino e seus pés também não alcançavam o chão, ficaram balangando.
Ele está sentado lá no alto, comendo um sanduíche de pão branco de casca dura com mortadela.
Napoleão Bonaparte que também era baixinho foi mais esperto: mandou fazer as pernas do trono mais curtas.
Ele está na hora do almoço da cesta de vime de onde pegou o pão e mortadela, a botelha de vinho.
Ou é café?
Santo Antônio de Lisboa que é o mesmo de Pádua também ficava no alto duma árvore pregando, pernas balançando.
Ele tem as mãos calejadas de calos ou da cal da construção da Catedral?
O Corcunda de Notre Dame montado na gárgula da Catedral, pés no ar, gritava: Santuário! Aqui ninguém me pega.
Ele sentado na tábua não olha prá baixo, dá tontura, inda mais na hora da comida, olha prá cima, pro céu.
O Harold Loyd lá no alto pendurado no ponteiro do relógio do arranha-céu não olha as horas.
Ele tem pendurado no teto do atelier um velocípede do menino que não sabia pedalar, empurrava com os pés.
O John Wayne galopando na pradaria também balançava as pernas no ar, igual os enforcados de Ox-Bow.
Ele, o menino sentado no vaso trono do banheiro não alcançava os pés no chão.
Melhor fazer cocô no bispote.
A esmeralda do Corcunda não é a da Tábua da Esmeralda: a do o que está em áma é igual o que está embaixo.
Ele sentado lá em cima, comendo, não olha pra baixo, olha pro céu e vê o que está embaixo.
O Leonardo da Vinci sentado no andaime da Santa Ceia ficava pensando que nem o Zequinha sentado na Lua?
Ele, o operário em construção, vê o Zepelin do seu tempo de menino.
Pensa em Curitiba.
Em um paredão na esquina da XV com Marechal tem o painel do Poty de um operário italiano da Catedral.
Era uma vez, era o aniversário do Poty. Não.
Acho que era Natal.
Isso mesmo, era Natal.
Naquele tempo criança tinha medo de Papai Noel, pergunte aos mais velhos, de medo se escondiam debaixo da mesa. Só iam pegar o presente depois que o Bom Velhinho ia embora.
De família humilde, Poty não esperava ganhar grande coisa: ganhou o melhor presente: um triciclo.
Um menino feliz pro resto da vida.
E hoje dia do aniversário desse menino, de Curitiba.
Ele deu tanta coisa boa de presente prá cidade que eu moro e amo.
Tanta coisa boa para você que nem mora aqui, e talvez nem conheça.
Eu tô dando de presente pro Poty este escrito que nem sei se ele vai gostar. E o que posso dar. Não repare, tá.
E você? Já escolheu o presente que vai dar pro Poty? Pra cidade que você ama?
Valêncio Xavier, escritor, diretor de TV e poeta
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