sábado, 1 de novembro de 2014

Histórias do Paraná - A sumaca

Histórias do Paraná - A sumaca

A sumaca
Luiz Romaguera Neto

Rita Maria do Nascimento, a "Rita da Cancela", foi uma mulher feliz.
Viveu 96 anos bem vividos, de 1760 a 1856, e teve em toda a sua existência a amizade de muitos amigos e o carinho dos filhos, netos, bisnetos e trinetos.
A respeito dos trinetos, diz Ermelino de Leão, em seu Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná: "Dona Rita, sempre muito alegre, fazia graça dizendo a uma das suas netas: - Minha neta, trazei-me o vosso neto para eu lhe abençoar".
Da sua união como o Sr. Veríssimo Carneiro dos Santos, nasceram 13 filhos, os quais, de uma forma ou de outra, foram figuras importantes na V Comarca da Província de São Paulo (hoje, Estado do Paraná).
O fato que eu vim narrar, passou-se com seu marido.
Tinha ele verdadeira aversão por viagens marítimas, desde que, certa ocasião, ao fazer uma entre Paranaguá e Santos, enfrentara forte temporal, quase vindo a naufragar. O susto foi grande, fazendo com que nunca mais se esquecesse da SUMACA em que viajou.
"SUMACA", antigo navio a vela, muito usado nas costas do Brasil, com dois mastros inteiriços: o da vante que cruza duas vergas, e o de
ré, que enverga vela latina.
Tinha dona Rita, ido passear na fazenda do Cambiju, que fica a poucas léguas da Cancela e dois dias depois ainda não havia regressado.
O Sr. Veríssimo, preocupado com a sua demora e ainda mais pela forte tormenta que ameaçava desabar para aqueles lados, saiu para encontrá-la.
Quando já ia a meio caminho, assustou-se mais ainda, pois a macega alta e madura, com o vento forte balançando o capim, formava ondas, dando a impressão de estar em pleno mar revolto.
Para se ter uma idéia de como ele achava que estava no mar, explicamos que, da sede da fazenda Cancela, tanto em direção a Cambiju, 20 km, como para trás, até Tamanduá, 30 km, ou ainda, do outro lado, para Purunã, outros 26 km, como os capões de mato que se encontravam quase todos nas baixadas, faziam aqueles vastos campos ermos parecerem, ao vento forte soprando as macegas, um verdadeiro mar revolto. (Hoje, essa vasta planície está povoada dos mais diversos tipos de arvores, todas alienígenas).
Com esse pensamento, viu, ao longe, vindo em sua direção, uma Sumaca. O susto foi enorme! Porém, em seguida, apercebeu-se de que não era nada mais nada menos do que a comitiva da Dona Rita, com suas longas capas esvoaçando ao vento, dando, com isso, a impressão das velas do navio.
Daquele dia em diante, passara a brincar com ele pelo acontecido e nomeado, aquele local, onde passa um lajeado, com o nome de SUMACA.
As lembranças desse tempo, não posso tê-las, pois nem era nascido ainda, mas, sempre que por lá passo, fico a imaginar aquela comitiva a galopar, com seus cavalos apeados e suas capas ao vento, naquele mundão de campos.
Mas, mais que isso, imagino o susto do Sr. Veríssimo!

Luiz Romaguera Netto, membro do Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Paraná


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