sábado, 25 de junho de 2016

Histórias do Paraná - Cascavel

Histórias do Paraná - Cascavel

Cascavel
Rubens Nascimento

Cascavel, sabem todos, vem a ser uma cobra repelente, e das mais venenosas. Não é, convenhamos, dos mais belos nomes para se batizar uma cidade.
Daí que muita gente ainda estranha a indaga porque Cascavel, a cidade, acabou recebendo esse nome.
Presume-se que, à época de início do povoamento, tinha tanta cobra na região quanto pé de soja atualmente. O fato é que em novembro de 1951, quando foi elevado a município, vinte anos depois do pioneiro Joaquim Silvério de Oliveira fixar residência na região, Cascavel já tinha essa denominação. E não são poucos os que dizem que, pelo clima de discórdia e violência que imperava na cidade na década de 50, até que o nome era bastante apropriado.
Com o crescimento da cidade, porém, muitos moradores começaram a se incomodar com o nome, era natural que do incômodo se passasse a um movimento nascente que pregava a mudança na denominação da cidade.
Nos idos de 1960, sendo eu presidente do Lions Clube de Cascavel, convoquei uma concorrida assembléia para a discussão do assunto.
Se o nome da cidade incomodava a alguns, ou muitos, que se debatesse os prós e contras de uma eventual mudança, e que se votasse em seguida a oportunidade ou não do Lions tomar as rédeas na condução de uma campanha pública pela mudança para um nome mais compatível com os novos tempos, com o progresso e união e a cidade então experimentava.
A chamada fina flor da sociedade local estava representada ali. O que fosse decidido certamente serviria para balizar uma campanha envolvendo o restante da população.
Ou, se fosse o caso, se encerraria ali, e para sempre, a arrastada discussão sobre o nome da cidade.
Mal terminei de falar, deixando a palavra para o debate, começou um ouriçamento total, como nunca veria em minha vida.
Quem não se levantou, levantou pelo menos um braço, todos falando ao mesmo tempo ou indicando quem queria falar.
Para acalmar a assembléia, tive que usar com vigor o símbolo da autoridade leonística, que é o sino.
Depois, como é de praxe no Lions Clube, dei a palavra ao Leão mais idoso, na época o Dimas Pires Bastos, titular do Cartório do Registro de Imóveis.
Homem um tanto sisudo, que raramente usava da palavra, Pires falou curto e grosso:
- Realmente, começou ele,
Cascavel é o nome de uma cobra repelente.
Mas, por outro lado impõe respeito. E graças à coragem e a pujança de seu povo a cidade está sendo conhecida não só no Paraná, mas no Brasil inteiro.
Quanto a atribuírem à Cascavel muitas histórias de violência, casos que na maioria acontecem fora dos nossos limites, deixem que falem.
Pois certo está o ditado — falem mal, mas falem de mim.
E mais ele não precisou falar.
As palmas que se seguiram indicavam que ele interpretara exatamente os pensamentos de todos. E como ninguém ousou falar mais a respeito, ficou praticamente assentada uma pá de cal sobre o assunto.
Cascavel continuou sendo Cascavel, com muito orgulho, E que assim permaneça para todo sempre.

Rubens Nascimento, empresário


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