sexta-feira, 17 de junho de 2016

Histórias do Paraná - A guerra Paraná x Golpe

Histórias do Paraná - A guerra Paraná x Golpe

A guerra Paraná x Golpe
Valêncio Xavier

Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, os ministros militares querem impedir a posse do vice-presidente João Goulart, então em viagem oficial à China Comunista.
No Rio Grande do Sul, o governador Leonel Brizola inicia a reação contra o golpe militar com a adesão do general Machado Lopes, comandante do III Exército. O clima no país é de guerra civil.
O golpista ministro da Guerra, marechal Odilo Denys, manda tropas para cruzarem o Paraná em direção ao Rio Grande do Sul e enfrentar as tropas gaúchas, que já tinham tomado pontos estratégicos em Santa Catarina. O porta-aviões Minas Gerais já se deslocava para as costas do Rio Grande do Sul para invadi-lo.
Em Curitiba, o prefeito Iberê de Matos é a favor da Legalidade, a dúvida ficava com os militares aqui sediados: iriam manter-se neutros e deixar passar as tropas golpistas, ou iriam combatê-las? No momento da decisão, o general Benjamim R. Galhardo, comandante da V Região Militar, sofre um estranho "ataque cardíaco" e seu Estado maior é quem dá ordens para deter os "invasores" na divisa do Paraná com São Paulo.
Estranhamente, o comando das tropas é dado a um major, quando operações dessa natureza exigem um oficial mais graduado, de coronel para cima.
Organiza-se um destacamento de 400 homens que seguem, em 28 de agosto de 1961, pela BR-2 (hoje Rodoviária Regis Bitencourt) em direção à divisa com São Pauio.
Tomam posição, bloqueiam trechos da estrada e minam pontes da divisa.
Ao contrário dos paranaenses, as tropas paulistas chegam com 3.000 homens bem equipados, tanques e tudo o mais. São do mesmo exército e, antes do combate, é necessário parlamentar. O general golpista Ulhoa Cintra vem ao meio da ponte na divisa e, de cara, quer falar com oficial superior e não com o Major, coisas de hierarquia. O major legalista não se intimida e diz que não disparará o primeiro tiro, mas não deixará ninguém passar.
Ulhoa Cintra olha para a outra margem do rio e vê um jipe do 13 R.I. de Ponta Grossa e imagina que todas as tropas de Paraná estão do outro lado.
Mal sabia que o jipe viera de Ponta Grossa, no dia anterior, e fora posto ali para impressionar porque era o único veículo que funcionava direito.
Fica cada um do seu lado, numa guerra de nervos.
Aviões da FAB sobrevoam as tropas paranaenses jogando folhetos dizendo que os soldados legalistas são considerados desertores e podem ser fuzilados.
Os paranaenses conquistam a população da região que vêm ajudá-los, tudo funciona, até os botecos de beira de estrada.
Comida e cigarros chegam de Curitiba mandados pela população.
Do lado de lá, com as medidas antipáticas do general golpista, nada funciona, os legalistas acabam tendo de mandar até comida para os inimigos.
O tempo passa, e os políticos lá em Brasília inventam a emenda parlamentarista e Jango finalmente vai ser empossado, a paz chegou.
As tropas inimigas se juntam para comemorar e, de cara, organizam uma partida de futebol, placar 0X0. Entre mortos e feridos salvaram-se todos.

Valendo Xavier, escritor e historiador


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