sexta-feira, 3 de junho de 2016

Histórias do Paraná - Homenagens perigosas

Histórias do Paraná - Homenagens perigosas

Homenagens perigosas
Leonardo Henrique dos Santos

É difícil apontar, na história recente do Paraná, algum governante que tenha resistido à tentação de ter,
ainda em vida, o seu próprio nome "eternizado" em alguma obra. E se incluirmos os que resistem à autoglorificação, mas capitularam ante as pressões domésticas e permitiram que suas respectivas mulheres virassem nome de creche, ou coisa parecida, aí salva-se bem pouca gente.
Mesmo se considerarmos como "recente" o período que vem desde os tempos de Moysés Lupion.
A lei proíbe que o governante coloque o seu próprio nome em obras públicas, o que seria realmente demais, mas não diz nada quanto a ser homenageado por instituições não governamentais, ainda que quase sempre alimentadas por recursos públicos.
A prática de se dar o nome de pessoas ainda vivas a obras costuma funcionar como autêntico "abre-te, Sézamo" diante dos cofres públicos.
Mas também oferece sérios riscos de criar situações constrangedoras para as duas partes — aduladores e adulados.
Quando decidiram construir o seu parque de exposição em Londrina, por exemplo, os dirigentes da antiga Sociedade Rural do Norte do Paraná, de olho na ajuda oficial, não vacilaram em dar ao nome do governador da época — Ney Braga, que mereceu até um busto em bronze na entrada.
Alguns anos depois, necessitando de mais ajuda para ampliar o parque, depararam com um problema: o governador já era Paulo Pimentel, que no mínimo iria torcer o nariz à idéia de dar qualquer ajuda a uma obra que glorificava seu antecessor, com quem mantinha as piores das relações. A solução que encontraram foi batizar de "Governador Paulo Pimentel" a nova ala do mesmo parque, destinada a exposição industrial.
A denominação acessória acabou no esquecimento.
Onde também caiu a denominação do "campus" da Universidade Estadual de Londrina, que foi "Governador Paulo Pimentel" enquanto ele esteve no poder, mas deixou de ser assim que seu eterno inimigo Ney Braga chegou ao Ministério da Educação e seus seguidores, na UEL, discretamente "passaram uma borracha" sobre a homenagem.
O episódio mais patético, no entanto, ocorreu em Maringá. Orgulhosamente, a cidade ia inaugurar o seu parque de exposições sem bajular nenhuma autoridade de plantão - o local iria se chamar "Parque dos Pioneiros". Só que, de repente, o deputado maringaense Haroldo Leon Peres foi escolhido pelo general Médici para governar o Paraná. A justa homenagem aos pioneiros foi imediatamente esquecida e o parque rebatizado com
o nome do maringaense que havia chegado ao governo estadual, ainda que por vias transversas — havia, nos tempos do regime militar, um risível simulacro de "eleição indireta" para referendar o nome ungido pelo ditador.
Sete meses depois, Leon Peres renunciava ao cargo para não ser cassado por corrupção, num dos maiores escândalos da nossa história política. E os maringaenses se viram obrigados a escolher um terceiro nome para o parque, que virou "Presidente Costa e Silva". Alguém já falecido, para se evitar acidentes.

Leonardo Henrique do Santos, jornalista


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