Histórias do Paraná - Um ato de bravura
Um ato de bravura
João Carlos Calvo
A vida humana é a grande e permanente usina geradora de fatos.
Sem ela, não haveria estórias nem história.
Esta, aliás, é composta por aquelas, devidamente ordenadas, testemunhadas e registradas.
E assim que "caminha" a humanidade: produzindo fatos.
As estórias contam de tudo.
- Do bom ao ruim.
- Do belo e do feio.
- Da decência e da indecência.
- Do medo e da bravura.
Ah! A bravura! Dela, vou lhes
falar mais adiante.
Houve, em todo o Paraná, lá pelos idos de 1955 a 1961, uma )>rande e generalizada insatisfação porque, principalmente em determinadas regiões, o progresso queria chegar a qualquer custo, sem pedir licença!
Deparava-se porém, com a baixa ou nenhuma qualidade dos serviços dos setores públicos, tão necessários quanto essenciais, para ilar suporte àqueles tempos de explosão desenvolvimentista.
A falta de energia elétrica linha primazia.
Era natural a preocupação das comunidades, porque receavam que as oportunidades que surgiram passassem, e não houvesse novas ocasiões para recuperá-las ou para
outra chance.
Isto as enchia de ansiedade.
Daí, muitas das atitudes tomadas eram movidas pela emoção ou até pela insensatez em alguns casos.
Certa vez, o povo de Apucarana, estimulado por verberações mais extremadas, foi convidado para se reunir em praça pública num determinado dia.
Nesse "meeting", muitos discursos vibrantes, batendo na mesma tecla, e com a mesma proposta conclusiva:
- Não adiantam os "remendos" que a Copei vem fazendo na sua usina (diesel). São apenas paliativos e estão atravancando o surto de crescimento que empolga a vida de cada cidade da nossa região. Não há outra solução.
Vamos, agora, em marcha, em direção da Usina.
Vamos destruí-las. O governo terá que fazer alguma coisa. Só assim fará, algo novo e melhor.
Gritos histéricos de apoiado, apoiado, apoiado... A turba, movida pelo estímulo, iniciou a caminhada em direção ao alvo. O policiamento era insuficiente, diante do número de manifestantes.
Quando chegaram lá, a surpresa! Diante da usina, envolto à Bandeira Nacional, como sua única proteção, lá estava, expondo a própria vida, o engenheiro, moço, chefe do serviço.
Pai de crianças pequenas e que precisavam dele como os filhos necessitam dos pais, ele não vacilou e optou, expontaneamente, por este ato de bravura, numa imensa lição de coragem e civismo.
A massa, surpreendida diante deste gesto de coragem, tremeu.
Tremeu e respeitou. Não teve "forças" para jogar a primeira peDra. Se o tivesse feito, por certo existiria, como homenagem, alguma usina, em algum lugar, com o nome Engenheiro Domingos Prata Barbosa.
E assim, com letras douradas, que vem sendo escrita a história do Paraná.
João Carlos Calvo, engenheiro àvil
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