sábado, 11 de junho de 2016

Histórias do Paraná - A primeira bigorna

Histórias do Paraná - A primeira bigorna

A primeira bigorna
Albino Giombelli

Em 1960, a região Oeste do Paraná era coberta por uma mata cheia, compacta, onde muitas vezes nem a pé era possível chegar, e as primeiras picadas o povo mesmo tinha que fazer. A colonização estava começando e muitas histórias, umas reais, outras não, mexiam com a imaginação de todo mundo, falando em crimes, grilos de terra, assassinatos na calada da noite.
Aportei nessa terra com a profissão de ferreiro, muito novo, recém casado, vindo lá de Concórdia, Santa Catarina, como milhares de outros homens, gaúchos e catarinenses principalmente, que vinham em busca de uma vida melhor e, por que não dizer, da riqueza que essa terra poderia gerar.
Como qualquer um que chegava aqui, naquela época ou me assustei com essas histórias que contavam, com os perigos que minha mulher, tão jovem e inexperiente quanto eu, e meus futuros filhos, poderiam passar aqui.
Um dia, resolvi voltar para Santa Catarina.
Fui ao meu sogro, o seu Pascoal, e lhe comuniquei minha decisão.
Expliquei que viver aqui era muito perigoso, que minha mulher estava chorando muito, que não tinha se acostumado a morar quase no meio do mato.
Meu sogro não brigou comigo mas disse que seria um grande erro voltar, eu que era moço novo, poderia lutar muito nessa terra de oportunidades.
Matutei muito, decidi ficar.
Ao tomar conhecimento da minha decisão, minha mulher chorou 15 dias.
Mas eu já tinha até um projeto de vida: em 1980, tempo em que as máquinas já teriam derrubado as árvores e as raízes apodrecido na terra, eu poderia me tornar um revendedor de trator para toda a região.
Instalei-me em Palotina e me preparei para esperar.
De repente comecei a ver que as coisas mudavam mais rápido do que eu pensava.
Cheguei a ver cenas inimagináveis hoje.
Como, por exemplo, 300 tratores de esteira derrubando as matas, de uma vez, dia e noite. A gente passava pelas estradas e via aquelas luzes, aquele barulho, o movimento, e tinha a impressão que aquele povo estava construindo um mundo novo.
Bem mais cedo do que eu pensava, já em 1974, me tornei revendedor dos Tratores Walmet e SLC. E há 18 anos sou o maior revendedor de tratores do Brasil: Mum ano só, de safra boa, vendi 1200 tratores.
Hoje, quando converso com gente importante, de Brasília ou de
São Paulo, meu jeito de falar, com forte sotaque italiano, que nunca deixei, pode até chocar.
Outros devem imaginar como um simples ferreiro como eu, lá de Santa Catarina, chegou onde cheguei.
Agora, me sinto muito longe daquele rapaz até um pouco amedrontado que apareceu aqui em 1961. A região também já não era a mesma.
As matas desapareceram, surgiram as cidades, os prédios, o progresso enfim.
Hoje, com filhos e netos paranaenses, muito mais experiência, posso dizer que o Oeste foi e continua sendo uma terra de oportunidades.
Basta a gente ter forças de vontade de trabalhar, que os sonhos podem se realizar mais depressa do que imaginávamos.
Guardo comigo, num lugar de honra no meu gabinete de trabalho, a primeira bigorna com que trabalhei nesta terra. E ela me lembra, todos os dias, que é preciso perseverança e um pouco de coragem para vencer desafios.
Sem isso, não se faz uma vida, uma região e muito menos um País.

Albino Giombelli, empresário, foi pioneiro em Palotina


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