segunda-feira, 20 de junho de 2016

Histórias do Paraná - Dois Presidentes da República paranaenses

Histórias do Paraná - Dois Presidentes da República paranaenses

Dois Presidentes (da República) paranaenses
Túlio Vargas

Quando as força republicanas riograndenses, a mando do bravo David Canabarro, invadiram a Província de Santa Catarina, ocupando a cidade de Laguna, a 22 de julho de 1839, tais foram as adesões e carinhos que receberam da população, que o comandante revolucionário acreditou que lhe estava reservada a missão de libertador nas costas atlânticas do continente, igual à que Simão Bolívar cumprira além dos Andes. E o que nos conta Ermelino Agostinho de Leão, no volume 6 do Dicionário Histórico e Geográfico Paranaense.
Canabarro convidou a Câmara Municipal de Laguna a "declarar já e já, solenemente, a nação catarinense livre e independente, formando um Estado republicano constitucional". Era a República Juliana.
Procede-se, em seguida, a eleição para presidente e vice-presidente. A escolha dos eleitores convocados recaiu sobre o tenente coronel Joaquim Xavier Neves para presidente e padre Vicente Ferreira dos Santos, vice-presidente. O que pouca gente sabe é que ambos eram paranaenses, nascidos em Paranaguá. Tio e sobrinho.
Joaquim Xavier Neves transferiu-se ainda jovem para a vizinha Província.
Herdara dos seus maiores as virtudes cívicas que deveriam torná-lo catarinense.
Fazendeiro opulento, mantendo transações do comércio de tropas os estancieiros gaúchos e gozando do mais largo prestígio, foi natural que quando os republicanos riograndenses projetaram a conquista de Laguna e a proclamação da República, o seu nome despontasse na preferência, por ser capaz de arrastar a população do lugar para a causa revolucionária.
Era ele o fiel da balança naquela emergência.
Sua situação pessoal e política tornou-se delicada ao ser detido em pleno domínio das tropas imperiais.
Seus passos eram constantemente espionados.
Viu-se obrigado a ceder sob as pressões legalistas a assumir o comando da praça de São José, em oposição à própria corrente que o elegeu presidente.
Serviu constrangido ao Império para evitar mal maior aos seus.
Faltou envergadura para a missão de herói; mas lhe sobraram virtudes para torná-lo benemérito.
Assumiu, então, o governo de efêmera República o padre Vicente. O sacerdote parnanguara foi um predecessor do regime, quiçá o primeiro filho do Paraná que sonhou e realizou a República.
Francisco Negrão, notável linhagista, informa que ele era filho do tenente Antônio dos Santos Pinheiro, que residia em Antonina, no sítio dos Pinheiros, próximo de seu cunhado tenente coronel Francisco Gonçalves Cordeiro, o Velho, que exerceu funções de relevo na região. O pai, escrivão da Ouvidoria Geral, mudou-se para Paranaguá, onde nasceu esse filho predestinado a papel tão importante nos eventos revolucionários do século.
O sonho da República Juliana durou pouco tempo.
As tropas imperiais varreram do território catarinense as forças de ocupação.
Joaquim Xavier Neves livrou-se do êxodo e dos sofrimentos impostos aos vencidos. O padre Vicente, que se retirou com as tropas de Canabarro, avançado em anos, teve de abandonar a batina e passar dias amargos na insegurança dos refúgios.
Tal é a sina dos que ousam (sem êxito) mudar o curso da história.

Túlio Vargas ex-deputado, membro da Academia Paranaense de Letras


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