Histórias do Paraná - Colonização à inglesa
Colonização à inglesa
Marcelo Oikawa
Foi com o mapa do Paraná sobre uma mesa de bilhar que Gastão de Mesquita Filho convenceu Lord Lovat a comprar as terras do norte do Estado. A cena, cinematográfica, aconteceu no salão de jogos da imponente sede da fazenda do Major Barbosa Ferraz, em Cambará. O inglês ficou deslumbrado quando o ilustre membro da família Mesquita, do jomal "O Estado de S. Paulo", mostrou que ele podia ter lucros de até mil por cento se comprasse as terras antes da passagem da estrada de ferro.
Tudo começou por volta de 1922. Pressionado por credores londrinos da nossa dívida externa, o governo de Arthur Bernardes concordou com a vinda da Missão Montagu para examinar a situação econômico-financeira do Brasil.
Lord Lovat vem como observador, mas particularmente interessado em encontrar terras propícias para a plantação de algodão.
Informada desse interesse, a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná publicou um anuncio de uma página no "Estadão" para chamar a atenção do inglês para as grandes possibilidades do Norte do Paraná. Lovat resolve conhecer a região e Mesquita Filho, engenheiro da companhia ferroviária, é incumbido de acompanhá-lo. A comitiva chegou a Cambará em janeiro 1924. A fazenda do Major Barbosa Ferraz é mostrada ao inglês: cinco mil alqueires formados por cafezais. Já na primeira noite na sede da fazenda, Mesquita interrompeu o jogo de bilhar após o jantar para estender sobre a mesa
o mapa com o traçado da ferrovia, que seria a espinha dorsal de um ambicioso plano de colonização. A idéia era convencer Lovat de que, ao invés de uma plantação de algodão, seria muito mais lucrativo colonizar a região, comprando-a preço de banana do Governo do Paraná e depois financiando a construção da ferrovia.
Naquele noite, Lovat descobriu que a área oferecida tinha o tamanho de metade do País de Gales e que a proposta era mais do que boa, pois na Inglaterra os bons negócios rendiam na base de cinco por cento ao ano.
Voltando a Inglaterra, Lord Lovat organizou imediatamente a Paraná Plantations Company e criou a subsidiária brasileira Companhia de Terras Norte do Paraná. E através dela comprou 1 milhão 316 mil e 480 hectares de mata fechada. O prazo de pagamento foi de 12 anos, sem correção, para que a dívida fosse paga com a venda dos lotes. O preço pago pelos ingleses foi de 8 mil réis o hectare o que correspondia à diária de um carpinteiro ou ao preço de cinco quilos de feijão.
Marcelo Oikawa, londrinese é jornalista.
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