terça-feira, 24 de maio de 2016

Histórias do Paraná - O sucesso tem nome

Histórias do Paraná - O sucesso tem nome

O sucesso tem nome
Roberto José da Silva

O crioulinho não agüentou os risos dos companheiros de classe naquele primeiro dia de aula. Não respondeu presença.
Disparou porta afora assim que a professorinha de óculos redondos pronunciou seu primeiro nome. Só parou na porta da casa humilde da fazenda rica.
Porque seus pais o tinham registrado com aquele rótulo ele queria saber, mais nunca perguntou. O "velho" não era muito de conversa e metia medo só no olhar.
As gozações dos companheiros foram diminuindo à medida que
o garoto ia ganhando respeito sem precisar retrucar no braço. Não precisava.
Na hora do recreio, onde geralmente só tinha um pedaço de cana para mastigar e chupar o suco adocicado, começou a se impor pelo talento com que dominava a pequena bola colorida de plástico nos disputados "rachas".
Não chegou a concluir o primário. O pai precisava da sua ajuda na lavoura.
Antes de abandonar a escola, contudo, já tinha ganho corpo parrudo e fama de bom de bola.
Ninguém tirava mais sarro do seu nome de batismo.
Cansava sim era de ouvir conselhos para seguir a carreira de jogar de futebol.
Mas e aquele nome esquisito? A explicação veio pelo rádio de pilha de um vizinho.
Propaganda de cigarro. Só então soube do vício e da paixão do pai por aquela marca. Não podia fazer nada.
Foi tocando a vida, calejando as mãos na lida com a terra vermelha e rica de Capitão Leônidas Marques e vendo sua estrela de boleiro brilhar nas fazendas da região.
Adolescente, ganhou mais musculatura e perdeu os dentes por descuido e por causa dos doces e da cana. Já jogava num time amador e o nome gozado ninguém mais lembrava.
Agora era Capitão, um volante que metia medo nos adversários pela determinação com que entrava nas jogadas e pelo porte tipo guarda-rou-pa.
Não foi por ser durão, entretanto, que um olheiro do Cascavel foi convencer o pai a deixá-lo tentar a sorte no time profissional. O menino que aos 17 anos já usava dentadura tinha talento.
Passou alguns anos mostrando isso no tapete verde do estádio Olímpico até ser contratado pela Portuguesa de Desportos, onde até hoje é titular absoluto da posição.
Capitão ganhou dinheiro, poderia até ter mudado o nome.
Mas, também por respeito aos pais, manteve-o com muito orgulho.
Ainda mais porque, agora mais do que nunca, Oliuae é um sucesso.

Roberto José da Silva, jornalista


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