quarta-feira, 11 de maio de 2016

Histórias do Paraná - Poloneses no Poraná

Histórias do Paraná - Poloneses no Poraná

Poloneses no Poraná
Maria do Carmo R. Krieger Goulart

O "Paraná terra de todas as gentes" — nome também de um espetáculo criado pelo jornalista Adherbal Fortes e o compositor Paulo Vítola — acolheu, a partir de meados do século passado, povos das mais diversas etnias como alemães, italianos, japoneses, ucranianos, espanhóis, holandeses e, claro, os poloneses, que viveram momentos que eternizaram sua trajetória em solo brasileiro.
A primeira leva de imigrantes poloneses chegou ao Sul do Brasil cm 1869. Reza a lenda, porém, que por sua vontade eles desembarcariam bem longe daqui.
Segundo a história oral, os poloneses almejavam chegar à cidade de São Francisco, nos Estados Unidos.
Acabaram desembarcando numa outra São Francisco: a do Sul, porto no litoral norte de Santa Catarina.
Como eles sabiam de inglês tanto quanto de português, parece que só foram notar a diferença alguns meses depois, quando algumas famílias resolveram se mudar para o México, "aqui pertinho".
Histórias e humor à parte, a verdade é que grandes diferenças, não só de localização geográfica, iri-am permear a vida desses cidadãos, a começar por um detalhe crucial: como eram imigrantes espontâneos, o Governo Imperial de Sua Majestade não tinha em relação a eles tantas obrigações quanto as assumidas, por exemplo, junto aos alemães -imigrantes convidados a povoar as colônias recém-fundadas no Brasil.
Para começar, os poloneses foram instalados na então Colônia Príncipe Dom Pedro, junto à Colônia Itajahy, no Vale do Itajai-Mirim, em Santa Catarina, futura sede da cidade de Brusque.
Eram terras inférteis, em encostas de morros, e os poloneses eram todos agricultores.
Depois de dois anos de infrutíferas tentativas de tirar daquela terra algum sustento, resolveram largar tudo e transmigrar para Curitiba, contrariando ordens de Sua Alteza Imperial Dom Pedro, que considerava-os tão bem instalados na região quanto os colonos de origem alemã, estes em sua maioria artesãos.
Entram em cena, então, o padre Antônio de Zielinski, vigário da Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar, em Gaspar, cidade próxima a Brusque, e Edmundo Saporski, residente na mesma freguesia.
Ambos trabalhavam a idéia de trazer conterrâneos poloneses para cá e tentaram com os que já estavam próximos.
Alcançando-a, em meio às contrariedades oficiais, a transmigração trouxe primeiro os homens, que vieram — pasmem! — a pé, seguidos pelas mulheres e crianças, estas num percurso porto-a-por-to (Itajaí-Antonina) e em carroças.
No rocio curitibano do Pilarzinho os poloneses completaram a sua trajetória de imigrantes a transmigrantes, ali estabelecendo-se em definitivo (um século depois, nesse mesmo bairro do Pilarzinho viveria um de seus descendentes mais ilustres, o poeta Paulo Leminski). Enfrentaram, porém, as mesmas dificuldades com relação a lotes, moradia e alimentação, agravados pela inexistência de um abrigo a eles destinados, conforme Saporski prometera, o que levou o Ministério da Agricultura a telegrafar, em 01/11/1871, ao Governo da Província do Paraná sobre a situação dos colonos polacos, indagando se era verdade que "eles andavam esmolando e não tinham com que se ocupar". Os poloneses requereram lotes de terras à Câmara Municipal de Curitiba e a partir de 1873 seus pedidos começaram a ser atendidos.
Nas décadas seguintes, levas e mais levas de imigrantes poloneses e seus descendentes constituíram um dos principais grupos étnicos do Paraná. Aqui vieram trazendo amor pela liberdade e a cultura milenar de um povo.
Aqui construíram uma nova pátria. A saga dos pioneiros, entretanto, continua sendo destaque neste Paraná de muitas bandeiras.

Maria do Carmo K Krieger Goulart, historiadora


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