sexta-feira, 13 de maio de 2016

Histórias do Paraná - Como plantar uma cidade

Histórias do Paraná - Como plantar uma cidade

Como plantar uma cidade
Marcelo Oikawa

Tomotada Ikeda zarpou do porto de Kobe no Japão com 19 anos. Já na viagem percebeu que as coisas não iam ser fáceis.
Tinha que fazer a limpeza da terceira classe, arrumar tempo para estudar a língua portuguesa e dar um jeito de se
acostumar com as esquisitas roupas ocidentais: chapéu, camisa, calça.
Mas tudo valeria a pena se conseguisse enriquecer logo e voltar para casa.
Desembarcou em Santos no mês de junho de 1927 e pensou que os fogos das festas juninas estavam saudando a chegada dos imigrantes.
Foi cumprir um contrato de um ano e meio como colono de café em Ribeirão Preto. Lá, o patrão era chamado de rei e nunca respondia a cumprimentos.
Chegava em carro preto com motorista, nunca olhava para os lados.
Depois mudou-se para
Lins, onde descobriu que na dura vida do colonato nunca se economiza o suficiente para comprar terras e sempre se está devendo para o pa-Irão.
Também aprendeu que acampando em beira de rio pega-se maleita.
Teve sorte, porque sobreviveu.
Anos depois, juntando todas as economias, comprou 30 alqueires em lkistos.
Mais tarde descobriu que a lerra não era boa e perdeu todo o dinheiro.
O ano era de 1931. Estava quase desistindo de tudo, quando ouviu falar que uma colonizadora possuía 18 mil alqueires num lugar do Paraná, onde ninguém tinha botado os pés.
Tomotada achou que sua última chance estava ali.
Decidiu viver uma nova aventura.
Na primeira tentativa de chegar até o lugar, parou perto de Itajaí, e teve que voltar por causa da Revolução de 32. Perdeu um revólver calibre 38, confiscado. Não desistiu, e meses depois voltou para tomar posse de 32 alqueires.
Viajou de trem, que no final de dois dias parou no meio do mato.
Avisaram que era Jatai.
Em seguida, viajou por mais duas horas como único passageiro da colonizadora.
Foi deixado no meio de um mato fechado.
Estavam ali seus 32 alqueires. Não desanimou porque pelo cheiro que a terra tinha, era da boa.
Tinha 24 anos quando começou a desmatar sua área.
Sozinho.
Com a amarga experiência da maleita, evitou a beira do rio e escolheu o alto de um espigão para morar.
Construiu uma choça com troncos e folhas de palmito.
Trabalhou seis meses com uma carabina e um 38 na bagagem.
Desmatou cinco alqueires.
Plantou cinco mil pés de café. No terceiro ano colheu sua primeira safra: 500 sacos. O ano era de 1935.
Não sabia, mas estava começando ali uma cidade.
Tomotada fundou Assaí e foi um dos líderes agrícolas que na década de 60 conquistaram o preço mínimo do algodao.
Se estiver vivo, está com 86 anos.

Marcelo Oikawa, londrinense é jornalista


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