terça-feira, 17 de maio de 2016

Histórias do Paraná - A pedra fundamental

Histórias do Paraná - A pedra fundamental

A pedra fundamental
José Carlos Calvo

Lembram daquela propaganda na TV, de umas pastilhas para a garganta que eram a solução no caso do
"bichinho do rumrum pegar você"? As tais pastilhas não deviam existir no final dos anos 50, daí que
o engenheiro Cássio Bittencourt de Macedo, tempos depois presidente do Instituto de Engenharia do
Paraná, vivia acometido pelo irritante e perturbador pigarro, e que se deu o "causo" que eu vou aqui narrar,
contado a mim pelo próprio Cássio alguns anos atrás.
Lá por 1958, Cássio era Secretário de Viação e Obras Públicas no governo do Sr. Moysés Lupion. Já havia decorrido boa parte do período governamental, muitas obras já estavam concluídas e entregues, mas o governador, embalado pelo entusiasmo, queria mais! Quando faltavam poucos meses para o término do seu mandato, Lupion marcou o lançamento da pedra fundamental de mais uma realização.
Não lembro, agora, se era um colégio ou um hospital.
Tratava-se, em todo caso, de obra de grande porte.
Seria edificada em Londrina,
cidade que despontava para um grande futuro, o que se comprovou com o correr do tempo.
No dia aprazado, todos estavam ao redor da cerimônia, postados conforme mandava o melhor figurino da época.
Eram muitas pessoas, gente representativa e importante de Londrina e região, algumas autoridades estaduais, escolares, etc.
Como de praxe nessas ocasiões, não faltaram os discursos pronunciados em tom grandiloqüente, seguidos das inexoráveis palmas, palmas e mais palmas.
Próximo ao Cássio estava o bispo Dom Geraldo Fernandes, homem de temperamento circunspecto e de grande prestígio pelo valor pessoal. O governador Lupion discursava enaltecendo a própria gestão que fazia e, no entusiasmo do momento, o que sempre dá um empurrão a mais na eloqüência dos políticos, arrematou o discurso com a temática promessa:
- Embora o pouco prazo para o encerramento de nossa gestão, enfrentaremos mais este desafio com energia e concluiremos mais esta obra.
Queremos entregá-la a esta laboriosa comunidade, antes do final do nosso governo, vencendo esta corrida contra o tempo.
Nesse preciso instante, o "bichinho do rumrum" pegou o Cássio, acometido do inoportuno pigar-ro. E não deu outra: ao seu lado, o Bispo Dom Geraldo, sem saber a verdadeira origem daquele pigarro, aproximou-se um pouco mais dele, fitou-o com um tão breve quanto brejeiro olhar e, num sussurro "entre dentes", com umas das mãos em curva sobre a boca, como quem protegia a confidência, lhe falou:
- Sinceramente, Dr. Cássio... eu TAMBÉM não acredito nessa promessa!

João Carlos Calvo, engenheiro civil


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