quinta-feira, 26 de maio de 2016

Histórias do Paraná - Um furo de reportagem

Histórias do Paraná - Um furo de reportagem

Um furo de reportagem
Wilson Bóia

A vida do jornalista curitibano Raul Gomes, desde a sua juventude, seria pontilhada por inúmeros episódios ligados à história política e social do Paraná, ora como simples expectador, ora como ativo participante.
Assim, quando da promulgação da Constituinte de 34, após a revolução de São Paulo, dois partidos operavam aqui em Curitiba:
o Partido Social Democrático, virtualmente chefiado pelo interventor Manuel Ribas, e o Partido Social Nacionalista, dominado pela figura do Coronel Mena Barreto. A corrente denominada União Republicana tinha por dirigente Caetano Munhoz da Rocha.
No entanto, Manuel Ribas, de temperamento apartidário, num mutismo indecifrável, sem manifestar o seu agrado ou desagrado por seu partido, assumira uma atitude desconcertante, enchendo de apreensão os seus correligionários, os pessedistas, já que mantinha contato com as outras duas facções, visitando Mena Barreto e confabulando com Munhoz da Rocha.
Embora preocupados e até mesmo assustados com tal procedimento incomum, os comandados do "gross bonnet" não se atreviam a lhe arrancar um pronunciamento franco e decisivo, principalmente em relação às próximas eleições.
Reinava nas hostes pessedistas visível inquietação.
Raul Gomes, por essa época, militava em "O Dia" de Caio Machado e, repórter ousado que era, resolveu ir ao Palácio, pôr tudo em pratos limpos, conseguir com o chefe pessedista uma declaração definitiva sobre sua posição partidária.
Bem cedinho vai ao Chefe de Polícia, Lauro Lopes, da bancada federal, e lhe comunica sua decisão.
Estávamos a 29 de setembro de 1934. Lauro tenta ponderar em contrário, mas Raul reafirma que sua presença frente ao Interventor não tinha conotações políticas - estaria apenas no desempenho de suas funções de jornalista. O chefe de Polícia telefona então para o Palácio e presta ao chefe de Gabinete as informações devidas.
E lá se vai o nosso Raul pela Rua Rio Branco, penetra na sede do Governo pelos fundos, se faz anunciar e é recebido cordialmente pelo Interventor, tendo ao seu lado Gaspar Veloso, diretor da Educação.
Indagados dos motivos por que solicitara audiência tão urgente, Raul Gomes expõe com franqueza ao Interventor a situação preocupante dos pessedistas, temerosos com a aproximação da data do pleito e a indefinição política de seu chefe maior.
Que estava ali como jornalista ansioso por um sensacional "furo" de reportagem, pois seus seguidores desejavam dele tão somente uma proclamação categórica como candidato de PSD.
Raul abre o seu caderno colocando-o à mesa.
Entrega a Ribas uma caneta.
Este não se faz de rogado.
Redige um pequeno texto, data e assina.
Mas constatado por Gaspar Veloso um pequeno engano, Ribas escreve outro texto, esse definitivo e aqui reproduzido: "Para terminar com boatos espalhados, referentes a minha permanência no Estado, declaro que pertenço a este povo e por ele darei o último dos meus dias.
Aceito, portanto, a minha candidatura ao Governo do Paraná, lançado pelo PSD. Curitiba, 29 de setembro de 1934. Manoel Ribas".
Raul sorri, satisfeito.
Missão cumprida. E por muitos anos conservaria com carinho aquele caderno com as duas versões.
Em tempo: Manuel Ribas seria eleito Governador, indiretamente, pela Assembléia Legislativa, para governar de 1935 a 1937, e voltaria a ser Interventor, nomeado por Getúlio Vargas, de 1937 a 1945. Governou o Paraná, assim, por 13 anos consecutivos, de 1932 a 1945.

Wilson Bóia, Presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores em 1993


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