terça-feira, 5 de agosto de 2014

Histórias do Paraná - Caçando sonegadores

Histórias do Paraná - Caçando sonegadores

Caçando sonegadores
Durval Weber

Quando Getúlio Vargas, na década de 30, foi buscar em Santa Maria, Rio Grande do Sul, o paranaense Manoel Ribas,
nascido em Ponta Grossa, ninguém podia imaginar que este fosse um estrategista econômico, que acabou recuperando as finanças do Paraná que se encontravam em situação caótica.
A confirmação deste fato nos veio da querida vizinha de apartamento Conjunto Capri, em Guaratuba, D. Geni, esposa do Des.
Eduardo Xavier da Veiga.
Ela nos contou que, naqueles idos, o Estado não pagava seus funcionários e contas há 18 meses, e que para o sustento
de sua casa se viu obrigada a confeccionar vestidos de noiva e outros trajes em Piraí do Sul, onde seu marido era juiz.
Os impostos naqueles tempos eram poucos, hoje temos mais de 60 tipos que penalizam todos os brasileiros honestos,
e enriquecem os corruptos (aqueles que Deus "ajuda" ganhar na loteria 56 vezes em um ano).
No final do ano vinha o fiscal lançar o imposto de Industrias e Profissões, e quem vendia a nossa famosa e milagreira pinga pagava o imposto de Líquidos Espirituosos.
Se os impostos eram poucos, os funcionários públicos eram muitos, gravitando em torno de repartições públicas apelidadas de "puleiros".
Nesse quadro, assume o Manoel Ribas.
Primeira coisa que fez foi acabar com os "puleiros", dando incertas nas repartições e até mandando gente para a cadeia,
daí seu apelido de Manéco Facão.
Em seguida, cuidou de formar uma boa assessoria e tratou de aumentar a arrecadação.
Para seu "Senado", Ribas nomeou três homens respeitáveis: Epaminondas Santos, o primeiro fabricante de louças de Campo Largo; Roberto Glaeser, fazendeiro nos Campos Gerais; e o industrial pontagrossense Albari Guimarães.
O imposto mais em voga naqueles tempos era o Imposto de Consumo, que consistia em selar até palito de fósforo, bebidas, etc.
Se por acaso se desprendia um selo, lá vinha o fiscal e multava, sem piedade, não levando em conta o selo que desgrudara. O "Senado", seguindo a rotina, criou o selo de Reajustamen-to Econômico.
Porém, o Sr. Epaminondas ponderou: - E o estoque, seu Maneco? Foi então criado e selo o Estoque.
A Impressora Paranaense trabalhava 24 horas por dia para poder atender os requerimentos que se avolumavam na Secretaria da Fazenda.
Seu Manéco percebeu que estava sendo tapeado pelos sonegadores, reuniu o "Senado" e lá veio novo Decreto,
cobrando todos os selos que foram entregues como para o estoque.
Foi um rebuliço no Paraná inteiro, aqueles que receberam selos para estoque não existente (futuros) pagaram de cabeça baixa.
Era isso ou ir para a cadeia como sonegadores.
Agindo dessa forma Manoel Ribas regularizou as finanças do Estado, ensaibrou a estrada Curitiba-Ponta Grossa, fez a estrada do Cerne, etc.
Era homem de pouco diálogo, mas... diante de um menino de rua sua fisionomia se transformava, com expressão de carinho e ternura.
Estão aí suas obras assistências — Casa do Pequeno Jornaleiro, Escola dos Pescadores de Guaratuba, Escolas Agrícolas de Palmeira, Ponta Grossa e Castro, e tantas outras.
Estou convicto de que, se tivéssemos homens dessa tempera, os ladrões não teriam fugido,
ou arranjado mil mentiras para se eximirem da cadeia.

Durval Weber, industrial aposentado em Campo Largo


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