Histórias do Paraná - Bolo de Noiva
Bolo de Noiva
Francisco Brito de Lacerda
Diva chegou contando que tinha novo namorado, um professor.
- Ele é desquitado ou divorciado, não sei bem.
Isso é chato.
As pessoas adoram invencionices.
Podem espalhar que eu tirei o professor da mulher.
- A separação deles foi agora, nestes dias?
- Faz mais de ano.
Briga velha.
Começou no dia do casamento.
Nem dormiram na mesma cama. A tarde, ele foi buscar o bolo de noiva numa padaria.
Demorou muito.
Voltou dizendo que tinha encontrado uma fulana na rua, parando para conversar. A noiva ficou louca da vida.
Pensou que ele estava namorando a fulana, armou um fuzuê. Acabaram de mal, veja só, antes de entrar na igreja.
- Que pazes? Claro que ele tentou agradar, como quem mostra bandeira branca.
Mas nem assim. A noiva bateu-lhe a porta. E o professor teimoso, foi dormir na cama-de-vento.
De manhã, eles se acertaram.
- Difícil acreditar nessa história.
Casado com uma donzela, o homem chora, sapateia, mas não se sujeita a dormir em cama-de-vento, inda mais na primeira noite.
- Acontece que virgem ela não era.
Durante o namoro, ficavam na salinha, fingindo que viam a novela. A mãe usava chinelo de feltro.
Uma noite, de mansinho, pegou os dois no sofá. O resto você adivinha.
Pouca vergonha! 0 senhor se aproveitou de minha filha menor! As coisas não vãoficar assim... Ele prometeu que casava.
Achou que a namorada estava esperando.
- Que nada! Só teve filho uns dois anos depois, quando o casamento tinha acabado, as portas frouxas de tanta batida.
- Daí veio o desquite?
- Veio.
Ele burrego, desistiu da casa em favor da mulher. E ainda paga uma pensão ao filho.
- Qual é o problema, então? Só casar, não acha?
- Não é bem assim.
Ainda não vi a papelada.
Quero uma garantia. O professor diz que ganha bem, que tem apartamento.
Promete muito, até automóvel.
Tenho medo é do falatório.
- Por que tanto cuidado?
- Eu o conheci solteiro.
Nunca fomos namorados. Só amigos, de dar tchau na rua. E se inventam que ele se divorciou por minha causa? Nesta cidade tudo acontece...
- Bobagem.
Se você for pensar assim...
- Depois, ele é ciumento. Não há igual. Já se mete na minha vida.
Está vendo este dentinho aqui embaixo? Ele acha que é meio escuro.
Me aconselha ir no dentista.
Chegou a perguntar, o safado, se eu lavo a cabeça todos os dias.
Então eu disse: Lavo três vezes por semana.
Você acha pouco?
- Um absurdo.
Logo com você, tão caprichosa...
- Daí ele passou a mão no meu rosto.
Cheirou a ponta dos dedos.
Disse que não gostava de base.
- Esse sujeito só pode ser professor de dança!
- Quando entrei no carrinho dele, para o primeiro passeio, desceu a lenha no meu short, que não é tão curtinho assim, fica mais ou menos por aqui. Não gosto de mulher pelada, ele disse.
- Que coisa!
- E ainda olha minhas unhas.
Exige esmalte natural.
Implica com o meu batom, Se faz de enjoado na hora de comer.
- Quer pratos especiais?
- Reclama muito, é mal-educado.
De tardezinha, domingo, servi café com leite em pó. Sabe o que ele disse? Não gosto de leite em pó. Prefiro leite natural.
Daí eu não me contive. O gato da casa estava em cima do caixão de lenha. A resposta veio na hora.
Se você quer leite de verdade, é só erguer o rabo do gato.
Erguer e apertar...
Francisco Brito de Lacerda, advogado
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