terça-feira, 19 de agosto de 2014

Histórias do Paraná - Uma rainha paranaense

Histórias do Paraná - Uma rainha paranaense

Uma rainha paranaense
Odmir P. C. Valsecchi

Em janeiro de 1954, precisamente no dia 6, minha família mu-dou-se do sul do Estado para Londrina.
Eu era um jovem de 18 anos, cheio de curiosidade.
Naquela mesma noite fui apresentado a um jovem de mais ou menos 27 anos que era radiotelegrafista dos Correios e da Real Transportes Aéreos.
- Esse é o Abelardo "Cabeça Chata" - me disseram.
E era de fato cabeça chata, natural de Pernambuco, um jovem recém casado.
Logo fizemos uma grande amizade, a qual perdura até hoje, apesar de estarmos distanciados, pois ele e a família, anos mais tarde retornaram para Pernambuco.
Em Londrina, Abelardo Ferreira Lopes e dona Geminah Seixas, sua esposa, tiveram um casal de filhos.
Como eles eram membros da Igreja Batista, colocaram nomes bíblicos nos filhos. O primogênito chamou-se Assuero.
Abelardo dizia que esse era o nome de um dos reis mais poderosos da antiguidade, e que se daria por mais que satisfeito se o filho chegasse a alcançar dez por cento do poder do antigo monarca. A filha foi registrada como Assíria.
Ambos nasceram no finzinho da Rua Minas Gerais, hoje Senador Souza Naves, quase na esquina com a Rua Antônio Amado Noivo, em Londrina.
Essa família, pequena para os modelos nordestinos, voltou para suas origens em 1961. Por muito tempo mantivemos correspondência, até que a mesma foi se alongando e cessou.
Mesmo assim, sempre tive notícias deles através de amigos em comum.
Num determinado ano, como bons batistas, foram para um retiro espiritual numa praia isolada do litoral pernambucano, para fugir do "endemoniado" carnaval recifense.
Assuero e a mãe tomavam banho de sol sobre umas pedras, quando veio uma onda gigante e arrebatou a mãe para o mar.
Assuero, como se fora um relâmpago, pulou atrás na tentativa de salvar a mãe que não sabia nadar. A mãe conseguiu se salvar, mas Assuero acabou morrendo afogado.
Ficou, dessa maneira, a família reduzida a três pessoas.
Acredito que por ligações religiosas, Assíria acabou se casando com um americano e por isso mudou-se para os Estados Unidos.
Teve uma filha e permaneceu casada por dez anos até que, por razões do mundo moderno, acabou se divorciando.
Mas, por que é que estou contando esta historinha? Apesar de conter uma passagem trágica, não é nenhuma tragédia, a vidinha da família até que é normal.
Qual a razão, então?
E que Assíria tornou-se celebridade da noite para o dia.
É atualmente mulher do Rei Pelé.
O pai tinha tanta esperança no filho, que o destino ceifou ainda na adolescência, sem ter tido a oportunidade dos dez por cento do Rei Assuero.
Mas foi Assíria quem se tornou rainha, com muitos súditos neste país do futebol.

Odmir P. C. Valseccbi, dentista em Jandaia do Sul


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