sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Histórias do Paraná - Diplomacia do Machado

Histórias do Paraná - Diplomacia do Machado

Diplomacia do Machado
Túlio Vargas

Corria o ano de 1967. homem simples, bem sucedido na lavoura, tocador de obras, Honorário Fagan, prefeito de Floraí, PR, município vizinho ao de Nova Esperança, não se conformava com a precária rede elétrica que abastecia a florescente cidade.
Participei dessa preocupação, durante meses, como deputado estadual, representante da região na Assembléia Legislativa do Estado.
Controlada por empresa particular, a distribuição de energia elétrica, de péssima qualidade, emperrava o desenvolvimento do município. Não bastasse isso, o titular da concessionária ainda dissentia politicamente do prefeito.
Isso complicava as relações entre as partes e o impasse comprometia uma solução de bom senso para os ligitantes.
Honorário Fagan sonhava em levar para Floraí os serviços da COPEL, cujas linhas de transmissão, em franca expansão pelas cidade do norte e nordeste do Estado, representavam conforto e prosperidade para aquelas populações carentes de progresso.
O prefeito vinha seguidamente a Curitiba em busca de apoio ao seu projeto.
Madrugador impeniten-te, hábito do quotidiano rural, entendia normal acordar-me, pelo telefone, às 6:00 horas da manhã.
Quando lhe ponderei a inconveniência do horário, passou a telefonar-me às 6:30 horas.
Baldados seus esforços em cancelar, pelos meios legais, a primitiva concessão, pediu-me o aconselhamento de uma alternativa para o caso.
Indiquei-lhe duas opções. A primeira delas, a diplomacia de um acordo; a segunda, a derrubada da velha rede, com os riscos de um processo judicial e represálias pessoais.
Ele não se deteve em reflexões.
Preferiu a segunda opção.
Obstinado e corajoso, determinou que, em plena madrugada, operários da Prefeitura pusessem abaixo, a golpes de machado, a rede incômoda.
Quando, no dia seguinte, desembarcou em Floraí o engenheiro João Carlos Calvo, designado pela COPEL para mediar uma composição amigável, nada mais restava de pé.
Houve reações e ameaças dos prejudicados.
Quase deu pancadaria.
Mas, com o passar dos dias, os ânimos serenaram diante do fato consumado.
Prevaleceu a férrea vontade do prefeito.
Com o caminho livre, a COPEL instalou-se em Floraí para alegria de um povo disposto a tudo para alcançar os benefícios da modernidade.
Teimoso e intimorato, Honório Fagan soube usar a linguagem que melhor funcionava naque-a região pioneira.
A diplomacia do machado...

Túlio Vargas ex-deputado, membro da Academia Paranaense de Letras


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